Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Nove meses depois de ter se recusado a receber as credenciais do embaixador da Indonésia no Brasil, Toto Riyanto, em um gesto diplomático duro e sem precedentes na diplomacia brasileira, a presidente Dilma Rousseff recebeu nesta quarta-feira finalmente as cartas do diplomata indonésio, em uma cerimônia com outros 21 embaixadores.
Desde fevereiro, a Indonésia estava sem embaixador no Brasil. Ao ter as credenciais recusadas, Riyanto foi chamado de volta a Jacarta e o governo indonésio afirmou que ele só voltaria após ter uma nova cerimônia marcada. De fato, fontes do Itamaraty confirmaram à Reuters que o embaixador chegou ao Brasil apenas no último sábado.
Durante a cerimônia, Riyanto foi o quarto embaixador a entregar suas credenciais a Dilma. E também um dos que menos tempo ficaram com a presidente --apenas a embaixadora da Letônia, Alda Vanaga, recebeu menos atenção do que o indonésio.
Dilma ficou pouco mais de um minuto com Riyanto. Deu as boas-vinda ao embaixador e mandou votos de felicidade e prosperidade ao presidente da Indonésia, Joko Widodo.
Riyanto foi nomeado para o Brasil em novembro de 2014, e seria apresentado em fevereiro deste ano, em meio à crise causada pela decisão da Indonésia de executar dois brasileiros condenados por tráfico de drogas. Um mês antes da cerimônia, Marcos Archer havia sido fuzilado. Rodrigo Gularte ainda esperava a execução, e o governo brasileiro tentava comprovar que o brasileiro sofria de esquizofrenia, o que deveria impedir sua execução. Gularte foi executado em abril.
Inicialmente, Dilma pretendia tratar do tema com Riyanto. De última hora, no entanto, com o embaixador já no Itamaraty --ele seria o primeiro a entregar suas credenciais-- a presidente decidiu não recebê-lo.
Coube ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, avisar a Riyanto que ele não poderia apresentar suas credenciais, e o embaixador foi retirado por uma porta lateral do Palácio do Planalto.
O incidente causou uma séria crise diplomática com a Indonésia. O governo do país chamou o embaixador do Brasil em Jacarta para consultas, e Riyanto voltou à Indonésia no dia seguinte. Nesse período, o Itamaraty manteve contatos com o Ministério das Relações Exteriores do país na tentativa de manter aberto o diálogo, apesar da crise. O recebimento das credenciais marca o fim na crise na visão dos diplomatas.
No entanto, há duas semanas, o Brasil abriu um novo flanco de disputa com o país ao questionar a Indonésia na Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que o governo da Indonésia impede a importação de frango brasileiro.
O Itamaraty, no entanto, acredita que isso não prejudicará ainda mais a relação entre os dois países, já que os questionamentos na OMC são vistos como naturais nas relações diplomáticas e comerciais.