SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um apelo nesta quinta-feira, em carta endereçada aos eleitores, para que os candidatos fora dos extremos políticos se unam em torno do nome entre os presidenciáveis deste grupo que tiver maiores chances de vencer a eleição de outubro.
Sem citar candidatos nominalmente, o ex-presidente, que é presidente de honra do PSDB, afirma que a eleição presidencial deste ano é um "momento decisivo" e que qualquer um dos extremos desta eleição --em alusão a Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), líder e vice-líder nas pesquisas de intenção de voto-- terão dificuldades de adotar as medidas que, ele avalia, o país precisa.
"A gravidade de uma facada com intenções assassinas haver ferido o candidato que está à frente nas pesquisas eleitorais deveria servir como um grito de alerta: basta de pregar o ódio, tantas vezes estimulado pela própria vítima do atentado. O fato de ser este o candidato à frente das pesquisas e ter ele como principal opositor quem representa um líder preso por acusações de corrupção mostra o ponto a que chegamos", disse.
Fernando Henrique se referia a Bolsonaro, alvo de uma facada no começo do mês, e a Haddad, apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril para cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro.
"É preciso revalorizar a virtude da tolerância à política, requisito para que a democracia funcione. Qualquer dos polos da radicalização atual que seja vencedor terá enormes dificuldades para obter a coesão nacional suficiente e necessária para adoção das medidas que levem à superação da crise", escreveu o tucano.
"Sem que haja escolha de uma liderança serena que saiba ouvir, que seja honesto, que tenha experiência e capacidade política para pacificar e governar o país; sem que a sociedade civil volte a atuar como tal e não como massa de manobra de partidos; sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar", avaliou.
Fernando Henrique já declarou publicamente apoio ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e tem dito ver no presidenciável qualidades que avalia importantes para o momento do país, como a tolerância e o fato de ser um democrata.
Alckmin, no entanto, ainda não conseguiu decolar nas pesquisas de intenção de voto e, para tentar melhorar seu desempenho e buscar chegar ao segundo turno, decidiu subir o tom tanto contra Bolsonaro quanto contra o PT.
Pesquisa Datafolha divulgada na madrugada desta quinta mostrou Bolsonaro na liderança, com 28 por cento da preferência do eleitorado, seguido por Haddad, com 16 por cento, Ciro Gomes (PDT), com 13 por cento, Alckmin, com 9 por cento, e Marina Silva (Rede), com 7 por cento.
(Por Eduardo Simões)