BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira que a meta fiscal ainda está em discussão e afirmou que pode haver posições diferentes sobre o tema no governo.
As declarações da presidente a jornalistas ocorrem após reportagens segundo as quais o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teria dito que deixará o governo se a meta de superávit primário do ano que vem, atualmente estipulada em 0,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), for zerada.
"Essa é uma questão que o governo esta discutindo", disse a presidente, ao ser questionada por jornalistas sobre qual será a meta. "O governo está discutindo isso. Dentro do governo pode ter posições diferentes, nós estamos discutindo isso."
Abordada por jornalistas após entrega do 21º prêmio de Direitos Humanos, Dilma repetiu tom de declaração divulgada à imprensa logo após encontro com o vice-presidente Michel Temer na quarta-feira à noite e disse que teve uma conversa "pessoal e institucionalmente" com o vice, que classificou de "muito rica".
Os dois protagonizaram situação de desconforto na segunda-feira, quando Temer enviou a Dilma uma carta "pessoal" em que aponta o que chamou de "fatos reveladores da desconfiança que o governo tem em relação a ele e ao PMDB". A carta de Temer veio dias depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitar pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma.
Ainda sobre o vice, Dilma disse nesta sexta-feira entender que Temer "tenha considerações" sobre o PMDB, partido que preside.
"O governo não tem o menor interesse em interferir nem no PT, nem no PMDB, nem no PR. Agora, o governo lutará contra o impeachment. São coisas completamente distintas", afirmou Dilma.
Não é de agora que a relação entre governo e PMDB enfrenta rusgas, mas a aliança entre os dois partidos ganhou contornos críticos nesta semana, quando deputados peemedebistas aliaram-se à oposição para aprovar uma chapa alternativa para compor uma comissão especial na Casa que analisará a abertura de um processo de impeachment de Dilma.
Em outro movimento recente, a maioria da bancada do PMDB destituiu seu líder anterior, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aliado ao Planalto, e elegeu Leonardo Quintão (MG), mais alinhado com Cunha.
Dilma disse ainda que não é "nenhuma novidade" o posicionamento de lideranças e governadores do PSDB a favor de seu impedimento.
"Aliás, a base do pedido (de impeachment) e das propostas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é o PSDB. Sempre foi. Ou alguém aqui desconhece esse fato? Por que se não fica uma coisa um pouco hipócrita da nossa parte, nós fingirmos que não sabemos disso", disparou.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)