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Governo e oposição ainda lutam por votos na Câmara sobre impeachment

Publicado 16.04.2016, 18:15
© Reuters. Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão sobre apreciação do pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - Movimentações intensas nos bastidores, reuniões a portas fechadas, negociações por cargos. A menos de um dia da votação do pedido de abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, a tônica é mesma para governo e oposição, impulsionada, nos dois casos, pela percepção de algum ganho de fôlego do Palácio do Planalto.

Neste sábado, o clima era de jogo ainda indefinido na Câmara, mas com ânimo renovado na base aliada após esforços orquestrados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para angariar mais votos contra o impeachment, contando com o apoio de governadores alinhados ao Planalto.

No grupo, estariam os titulares e representantes dos Estados do Ceará, Piauí, Amazonas, Acre, Maranhão, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Amapá e Paraíba.

"A participação dos governadores está sendo decisiva", afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos vice-líderes do governo na Câmara. "Os deputados querem conforto numa votação, um conforto que os governadores podem dar", disse.

Lula, exímio conhecedor das rivalidades regionais, tem insistido em explorá-las para engordar a lista dos deputados que devem votar contra o afastamento da presidente Dilma.

Segundo um parlamentar governista que pediu anonimato, a atuação do ex-presidente tem sido fundamental, pois a percepção dos parlamentares é que ele cumpre os acordos que fecha, ao contrário de Dilma.

"Não foram cinco nem dez viradas (de posição), foram mais de 20", disse.

No Congresso, parlamentares da oposição criticavam a articulação do governo. O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), disse que o partido irá entrar com queixa-crime contra Dilma na Polícia Federal por práticas corruptas na negociação de cargos em troca de votos.

"Eles estão utilizando a máquina pública para constranger e cooptar deputados", afirmou.

Para o vice-líder do PSDB na Casa, Caio Nárcio (MG), o governo estaria adotando um "jogo psicológico" para ganhar votos. Ainda assim, sustentou que a oposição teria de 15 a 20 votos acima dos 342 necessários para admissibilidade do impeachment na Câmara.

O deputado tucano admitiu, contudo, que ambos os lados seguiam em intensas negociações, mobilizando tropas para frear os avanços obtidos ora de um lado ora de outro.

"O jogo tem que ser jogado até o último minuto", disse.

Mais cedo neste sábado, Dilma cancelou a participação em evento de movimentos populares contra o impeachment para se dedicar inteiramente a conversas com parlamentares no Palácio da Alvorada. Falando em seu lugar a militância, Lula chegou a dizer que a busca por votos era uma "guerra de sobe e desce" semelhante à bolsa de valores.

Do outro lado da batalha, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) voltou a Brasília de São Paulo, de onde tinha dito que acompanharia a votação na Câmara. Seu retorno alimentou apostas de que, do lado dos apoiadores do afastamento da presidente, um resultado favorável ao impeachment na Câmara ainda não é tido como certo.

Líderes pró-impeachment, inclusive, fecharam acordo para abreviar o tempo de debates na Casa e assim garantir que a votação do impedimento não seja adiada, em meio ao sentimento entre parlamentares de que o governo tem conquistado terreno.

© Reuters. Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão sobre apreciação do pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

"O governo estava entubado, mas de ontem para hoje ele saiu da UTI. Ainda corre risco de vida, mas está vivo", disse um outro parlamentar, também pedindo para não ter o nome revelado. Ele votará contra o impedimento, contrariando a orientação do seu partido.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)

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