Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A manutenção dos vetos presidenciais a medidas aprovadas pelo Congresso que ampliam os gastos governamentais é prioridade do governo neste momento e servirá para avaliar as dificuldades que enfrentará no Legislativo nos próximos meses.
O tema tomou a maior parte da reunião de coordenação política no Palácio do Planalto na manhã desta segunda-feira.
"Vamos qualificar o Congresso. Porque aí dá para ter uma dimensão das dificuldades do governo na Câmara e no Senado", disse à Reuters uma fonte do Palácio do Planalto.
O governo divulgou um estudo que aponta que, se os vetos forem derrubados, o custo para os cofres públicos de 2015 a 2019 pode chegar a 127,8 bilhões de reais -- praticamente o dobro do esforço fiscal proposto pelo governo para o próximo ano.
Entre os vetos que devem ser analisados pelo Congresso nesta terça-feira estão o reajuste médio de 72 por cento para os servidores do Judiciário e a extensão do sistema de reajuste do salário mínimo a todos os aposentados
De acordo com a fonte do Palácio do Planalto, se os vetos forem derrubados, "o quadro ficaria muito difícil" e seria um "desastre anunciado".
O governo conta votos para tentar conter a derrubada dos vetos. Hoje, a base governista está completamente desagregada, e os líderes calculam que o governo tenha apenas cerca de 200 votos na Câmara para aprovar as medidas do pacote fiscal.
Entretanto, segundo a fonte, a expectativa é que seja possível obter os 257 necessários na Câmara e os 41 no Senado, já que os parlamentares querem evitar a responsabilidade de aprovarem as chamadas pautas-bomba, que dificultariam ainda mais a situação econômica do país.
Na manhã desta segunda-feira, antes da reunião de coordenação política, a presidente reuniu-se a sós com o vice-presidente Michel Temer para tratar essencialmente da reforma administrativa, mas também para pedir ajuda com a base na manutenção dos vetos.
Temer almoçou depois com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem conversou sobre os dois temas. Ao sair do encontro, Cunha, em entrevista, afirmou que é contrário à derrubada do veto ao reajuste do Judiciário.
"Eu acho que, concretamente, não deve se derrubar. Seria uma atitude de colocar mais gasolina na fogueira. É acender fósforo no tanque de gasolina. Não sou partidário disso", afirmou.
Cunha também defendeu ainda o adiamento da sessão do Congresso, mas ainda não há uma decisão.
(Com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)