Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A notícia de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) teria feito um acordo de delação premiada e envolvera a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pegou de surpresa o Palácio do Planalto nesta quinta-feira, gerando uma reação inicial para tentar desqualificar o ex-líder do governo no Senado.
Dilma foi informada da reportagem publicada da revista IstoÉ pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, um pouco antes da cerimônia de posse do novo ministro da Justiça, Wellington Lima e Silva.
Depois de encerrar rapidamente a posse, com um discurso de cerca de 10 minutos, a presidente convocou Wagner, o ex-ministro da Justiça e agora ministro da Advocacia Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, e o chefe de gabinete da Presidência, Gilles Azevedo, para uma reunião de emergência onde tentaram traçar uma resposta do governo.
Ainda pela manhã, Cardozo já tentara desqualificar o senador, afirmando que ele não teria credibilidade depois de ter mentido mais de uma vez.
“O senador Delcídio, lamentavelmente, depois de todos os episódios não tem credibilidade para fazer nenhuma afirmação”, disse Cardozo. O senador foi preso na operação Lava Jato por tentar facilitar a fuga do ex-diretor da Petrobras (SA:PETR4) Nestor Cerveró.
A reportagem relata conteúdo da suposta delação premiada de Delcídio dizendo que Cardozo e Dilma teriam tentado interferir na operação Lava Jato e que a presidente teria buscado indicar ministros aos tribunais superiores para favorecer acusados.
SEM CONFIRMAÇÃO
O Planalto aguardava uma nota que Delcídio divulgaria negando que tenha feito o acordo de delação premiada para só então se pronunciar.
A nota veio só no final da tarde. Nela, Delcídio disse que "não confirma" o conteúdo da matéria da revista Isto É. Assinada pelo senador e por seu advogado, Antonio Augusto Figueiredo Basto, a nota afirma ainda que Delcídio e sua defesa não conhecem "a origem, tão pouco a autenticidade" dos documentos apresentados na matéria da revista.
Mas diante da repercussão da reportagem, o governo resolveu não esperar a nota para agir e escalou Wagner e Cardozo para responderem as acusações.
Já como advogado-geral da União, Cardozo afirmou que Delcídio mente e envolveu a presidente em um “conjunto de mentiras”.
Em entrevista no início da tarde, o ministro da Casa Civil afirmou que viu “pouca materialidade” nas supostas denúncias de Delcídio.
“Eu acho que não tem muita consistência aqui não. Tem muita poeira e pouca materialidade, mas eu não vou entrar nessa discussão. Alguém viu alguma prova ali? Eu só vi suposição onde ele próprio é o delator, ele é a testemunha, ele é tudo. Na minha opinião, tem muito pouca materialidade”, disse.
(Reportagem adicional de Leonardo Goy e Maria Carolina Marcello)