SÃO PAULO (Reuters) - O candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira que a Justiça Eleitoral deveria esperar o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir sobre uma ação da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para só então se manifestar sobre a inelegibilidade da candidatura dele.
“O que eu entendo é que a Justiça Eleitoral não poderia se manifestar antes do STJ. Se estamos ingressando com um recurso pela Lei da Ficha Limpa no STJ, para suspender os efeitos da condenação em segunda instância, como o TSE vai se manifestar antes do STJ?", disse Haddad a jornalistas, quando perguntado sobre o pedido de impugnação apresentado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pouco depois do registro da candidatura de Lula na quarta-feira.
"É uma perseguição que não tem fim aos direitos do presidente”, reclamou Haddad, após participar de sabatina da entidade Todos pela Educação, em São Paulo.
O ex-prefeito de São Paulo se referia a uma ação que a defesa de Lula vai apresentar no Superior Tribunal de Justiça pedindo a suspensão dos efeitos da condenação em segunda instância sobre Lula, entre eles a inelegibilidade para a disputa da eleição deste ano.
O ex-presidente foi condenado pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá (SP). Com base nessa condenação, Lula deve ter sua candidatura presidencial barrada pelo TSE, com base na Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura de condenados por órgãos colegiados da Justiça.
Na quarta-feira, o PT registrou a chapa do partido para a disputa pelo Palácio do Planalto com Lula como candidato a presidente e Haddad como vice.
Pouco depois, Dodge, que também é a procuradora-geral eleitoral, entrou com pedido de impugnação da candidatura.
Haddad, que tem atuado como porta-voz de Lula e deverá assumir a candidatura presidencial petista em caso de impugnação do ex-presidente, também rebateu as críticas da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que na véspera disse que a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso desde abril, virou uma espécie de comitê de campanha do petista por conta das constantes visitas de aliados políticos que se apresentaram como seus advogados nos autos do processo.
Os procuradores pediram que a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que é advogada, seja impedida de visitar o petista, argumentando que, no exercício do mandato parlamentar, ela não poderia advogar.
"Não sei se o Dallagnol conhece a constituição eleitoral, mas um dos documentos mais importantes do registro (de candidatura) é o plano de governo", disse Haddad, referindo-se ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e um dos signatários do pedido.
"Mas eu vou fazer um plano de governo sem me reunir com o candidato?", questionou o ex-prefeito.
"Primeiro que eles não estão lá para saber do que a gente trata, ou tem escuta lá? Não, né? Eu estou dizendo que eu ia lá conversar sobre um documento essencial para o registro (de candidatura). Não existe candidatura sem registro, não existe registro sem plano de governo. Como é que eu vou elaborar um plano de governo sem ouvir o candidato? Isso é uma atividade normal de uma pessoa que precisa apresentar um documento. Eu estava elaborando esse documento”, argumentou Haddad, que é o coordenador do plano de governo da chapa de Lula.
Durante a sabatina sobre educação, Haddad disse que é significativo que Lula tenha escolhido como vice seu ex-ministro da Educação e que o ex-presidente quer acompanhar o tema de perto.
Segundo Haddad, o plano de governo do PT é focar na formação dos professores, no Ensino Médio e no resgate dos trabalhos que foram desenvolvidos nos Ministérios da Educação, da Cultura e da Ciência e Tecnologia, este último fundido ao Ministério da Comunicação.
(Por Taís Haupt)