BRASÍLIA (Reuters) - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse em comunicado interno a membros do Ministério Público Federal que as operações desta quinta-feira, realizadas no âmbito da Lava Jato, têm um “gosto amargo” para a instituição por causa da prisão, pedida por ele e aceita pelo STF, do procurador Ângelo Goulart Villela.
O procurador atuava na operação Greenfield, que tem a JBS (SA:JBSS3) como uma das investigadas.
“Há três anos, revelou-se um esquema criminoso que estarrece os brasileiros. As investigações realizadas pelo Ministério Público Federal e outros órgãos públicos atingiram diversos níveis dos Poderes da República em vários Estados da federação e, aquilo que, até então, estava restrito aos círculos da política e da economia, acabou chegando à nossa Instituição”, escreveu Janot.
“Exercer o cargo de procurador-geral da República impõe, não poucas vezes, a tomada de decisões difíceis. Nesses momentos, o único caminho seguro a seguir é o cumprimento irrestrito da Constituição, das leis e dos deveres institucionais. Não há outra forma legítima de ser Ministério Público.”
Na mensagem interna, Janot diz que Villela --que também atuava como procurador no Tribunal Superior Eleitoral-- é investigado juntamente com o advogado Willer Tomaz, também preso, por tentar interferir na Greenfield, que tem a holding J&F, controladora da JBS, entre as investigadas, e de buscar atrapalhar a celebração de acordo de delação premiada com o empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F.
“Foi pedido ainda o afastamento do procurador de suas funções no Ministério Público Federal. Determinei também sua exoneração da função de assessor da Procuradoria-Geral Eleitoral junto ao TSE e revoguei sua designação para atuar na força-tarefa do caso Greenfield”, escreveu Janot.
“A responsabilidade criminal do procurador e dos demais suspeitos atingidos pela operação de hoje será demonstrada no curso do processo perante os juízos competentes, asseguradas todas as garantias constitucionais e legais”, acrescentou o procurador-geral.
A prisão de Villela acontece um dia depois de o jornal O Globo divulgar reportagem, posteriormente confirmada com fontes pela Reuters, afirmando que Joesley Batista, em tratativas para acordo de delação premiada, gravou o presidente Michel Temer dando aval à compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha, assim como o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), pedindo 2 milhões de reais ao empresário.
Algumas dessas gravações foram feitas pelo empresário em conjunto com o Ministério Público e a Polícia Federal em um procedimento conhecido como ações controladas. Na mensagem interna aos membros do MPF, Janot diz que evidências que levaram ao pedido de prisão de Villela também foram obtidas neste tipo de ação.
(Reportagem de Ricardo Brito; Reportagem adicional de Eduardo Simões em São Paulo)