Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira um ex-gerente da área internacional da Petrobras (SA:PETR4) suspeito de ter recebido quase 5 milhões de dólares em propina na negociação da estatal para comprar um campo de petróleo em Benin, na África, no mesmo esquema revelado pela operação Lava Jato que resultou na condenação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Pedro Augusto Cortes Xavier Bastos era gerente da área internacional da estatal no momento da transação e trabalhou na análise e no negócio relativo à aquisição dos direitos de exploração do petróleo em Benin junto à Compagnie Béninoise des Hydrocarbures (CBH) por 34,5 milhões de dólares, em 2011.
Segundo as investigações, houve pagamento de propina no valor de 10 milhões de dólares como parte da negociação, sendo ao menos 1,5 milhão de dólares ao ex-deputado Eduardo Cunha, que foi preso em outubro de 2016 e condenado a 15 anos de prisão por seu envolvimento no esquema.
Em seu despacho decretando a prisão de Pedro Bastos, o juiz federal Sérgio Moro disse que o ex-gerente da Petrobras reconheceu em depoimento ter recebido 4,8 milhões de dólares de uma pessoa envolvida na transação, mas disse que o pagamento seria por serviços lícitos, o que foi refutado pelo magistrado.
"Apesar da alegação do depoente de que, em seu entendimento, o recebimento de valores de João Augusto Rezende Henriques era lícito, há, em cognição sumária, caracterização de crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro", disse Moro.
"Afinal, gerente da Petrobras teria participado da aprovação de negócio, com irregularidades procedimentais e na avaliação do negócio, com a CBH e recebido, por intermediários, 4.865.000,00 dólares do preço, isso subrepticiamente, em conta secreta no exterior."
João Henriques é apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras e também está preso no âmbito da Lava Jato.
Além de prender o ex-gerente da Petrobras, a Polícia Federal tinha mandado de prisão nesta sexta-feira, na 41ª fase da Lava Jato, contra o ex-banqueiro José Augusto Ferreira dos Santos por suspeita de também receber recursos ilegais provenientes do mesmo negócio, mas ele não foi encontrado. Segundo a PF, advogado de Santos disse que ele irá se apresentar ainda nesta sexta à polícia.
De acordo com o Ministério Público Federal, o rastreamento internacional de recursos, com apoio do Ministério Público da Suíça, levou à identificação de outros beneficiários do esquema de corrupção envolvendo a compra do campo em Benin depois da prisão de Cunha, o que resultou na nova fase da Lava Jato.
“A cooperação internacional continua sendo um marco da Lava Jato. Neste caso, foi essencial para rastrear pagamentos suspeitos no exterior. Na medida que os países cooperam mais, corruptos e corruptores encontrarão um ambiente mais hostil para esconder os crimes que cometem”, disse o procurador da República Orlando Martello em comunicado.
A 41ª fase da Lava Jato foi deflagrada um dia após o juiz Sérgio Moro inocentar a mulher do ex-deputado Eduardo Cunha, a jornalista Claudia Cruz, da acusação de lavagem de dinheiro no ambito da mesma investigação, e o Ministério Público Federal anunciou nesta sexta que vai recorrer contra a decisão.
"Nós sabemos que parte desses valores abasteceu a conta que foi usada por Cláudia Cruz para seus gastos em bens de alto valor. Nós vamos recorrer, nós discordamos, cremos que isso decorre muito mais do coração generoso do doutor Sérgio Moro na interpretação de um fato envolvendo a esposa de uma pessoa sabidamente ligada à corrupção", disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.
A operação desta sexta recebeu o nome "Poço Seco", em referência aos resultados negativos do investimento realizado pela Petrobras em Benin, acrescentou a PF. Na indústria de petróleo um poço seco é aquele que não produz petróleo.