BRASÍLIA (Reuters) - A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, criticou na terça-feira os programas de refinanciamento de dívidas com a União, chamando-os de uma “grilagem do orçamento público”, e defendeu que as isenções tributárias sejam discutidas para aliviar o problema fiscal do país.
Para a pré-candidata, muitas vezes o funcionalismo público é utilizado como bode expiatório para a questão fiscal, mas ele deve ser debatido em conjunto com outros “privilégios”.
“Se vamos ter uma agenda de sacrifícios, então vamos botar todos os privilégios na mesa e tratá-los conjuntamente”, disse em entrevista à Globonews, citando o Refis e as isenções concedidas pelo governo. “Porque senão a gente cria um debate enviesado”.
Marina argumentou que as isenções de multas e renegociação de dívidas impedem que “bilhões e bilhões” de reais possam ser direcionados a áreas como a saúde e a educação.
“É muito fácil defender economia de livre mercado e ir para o balcão do governo todo tempo para legalizar o ilegal”, afirmou.
Questionada, negou que revogaria a reforma trabalhista, mas reconheceu a necessidade de corrigir o que considerou “pontos draconianos”, como as regras para o trabalho de grávidas e lactantes e a isenção de custas processuais a pessoas de baixa renda.
“Vamos corrigir, fazer o debate, não se pode ouvir só um lado”, disse, lembrando da necessidade de abordar a questão da informalidade e aproveitando para defender uma discussão sobre o Sistema S.
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente disse que manteria o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, mas alertou para a importância de uma solução para os sindicatos, para que “não sejam tão fragilizados”.
DOGMAS
Durante a entrevista, Marina garantiu não nutrir posições “dogmáticas” sobre privatizações, parcerias e concessões, ainda que tenha se posicionado contra a venda de empresas como a Petrobras (SA:PETR4), o Banco do Brasil (SA:BBAS3) e a Caixa Econômica Federal.
“Mas dentro de um plano existem empresas que podem ser privatizadas”, avaliou.
No caso da reforma da Previdência, defendeu a discussão sobre uma idade mínima, mas disse ser necessário uma análise melhor sobre o estabelecimento de idades diferentes para homens e mulheres.
“Existem nuances que precisam ser observadas nesse debate”, disse, defendendo que as regras para os militares também sejam avaliadas.
Marina disse ainda que teria agido “completamente diferente” do presidente Michel Temer no caso da greve dos caminhoneiros, e teria se antecipado à crise, já que o governo detinha a pauta de reivindicações da categoria muito antes da paralisação.
Ela reconheceu que a Petrobras enfrentou limitações estruturais, mas tinha como “manejar” a questão do preço dos combustíveis e não soube entender sua “importância estratégica”.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)