Por Maria Carolina Marcello e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em uma convenção morna nesta quinta-feira, o MDB formalizou, com o mote do resgate da confiança no país, a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência da República, mas o partido só deve definir um nome para a vice da chapa --há preferência por uma mulher para o posto-- nos últimos instantes permitidos pela lei eleitoral.
Aprovada por 85 por cento dos convencionais --357 votos a favor, 56 contrários e 6 brancos-- a candidatura de Meirelles demonstra, na opinião do presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR), uma maior unidade do MDB.
“Quero agradecer vocês pela confiança. Não existe palavra que tenha mais significado”, discursou Meirelles logo após o anúncio do resultado na convenção. “ A minha candidatura tem um objetivo principal: resgatar o espírito de confiança no Brasil”, disse.
“Estou sendo chamado pelo MDB e me coloco à disposição do país... me coloco à disposição para ser o elo da reconstrução da confiança.”
O ex-ministro enfrentou resistências para se consolidar como candidato da legenda, e segue tendo dificuldades principalmente entre caciques do Nordeste, como o senador Renan Calheiros (AL). Na região, o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda é muito forte.
Ainda que tenha garantido sua candidatura nesta quinta, Meirelles terá trabalho para driblar os respingos da impopularidade do presidente Michel Temer e de seu governo, do qual participou como ministro da Fazenda.
Tanto no discurso da convenção, como em falas e vídeos na pré-campanha, o candidato do MDB fez questão de frisar sua história, sem deixar de fora os oito anos que passou, no governo Lula, à frente do Banco Central.
“Era impossível colocar ordem na economia, com Lula, e crescer por 8 anos seguidos”, afirmou. “Fui lá e provei que era possível.”
Depois, referindo-se à participação no atual governo, afirmou que “mostramos que era possível fazer o Brasil voltar a crescer em dois anos”.
“Posso fazer um bom trabalho, porque sei quando e porque os governos anteriores erraram”, disse, ao som do jingle que diz “chama o Meirelles”.
Indagado sobre se buscaria se descolar de Temer, devido à impopularidade de seu ex-chefe, Meirelles afirmou que será candidato de sua própria história.
"Não existe questão de colar ou descolar. Eu sou candidato antes de mais nada da minha história, do que eu fiz pelo Brasil", disse.
"Eu sou candidato de tudo aquilo que já fiz no governo e antes. Essa experiência eu vou colocar à disposição do povo brasileiro. E no momento que a população conhece a verdade, tem acesso a essas informações dizem ‘nesse aí eu vou votar'", afirmou.
NO GRITO
Na convenção emedebista, Meirelles, também conferiu um tom emocional à sua fala, pedindo “oportunidade” e “tempo” para resgatar a confiança no país. Chegou a citar a Copa do Mundo de 1958, quando a seleção brasileira conquistou seu primeiro título mundial, e argumentou que “é possível” fazer o “Brasil dos sonhos”.
Meirelles atacou ainda o que chamou de “candidatos extremistas” e disse que não é possível criar empregos “no grito”.
“Não existe fórmula mágica”, afirmou. “Para criar empregos de verdade é fundamental resgatar a confiança no Brasil, adotando a política econômica correta”, disse.
Sustentou, ainda, que o país não precisa de “messias” vestido com um “uniforme de salvador da pátria”, nem de um “líder destemperado” e nem de um “eterno candidato a presidente”, em referência a seus principais adversários na disputa eleitoral.
SEGUNDO TEMPO
Na mesma toada de outros partidos, que ainda esticam a corda e negociam alianças e nomes para vice nos últimos dias destinados às convenções partidárias, o MDB discutirá o tema em uma comissão especial para definir um nome nos próximos dias. Jucá disse que a escolha ocorrerá até sábado e formalização até o dia 6 de agosto.
A direção do partido tem preferência por uma mulher para compor a chapa com Meirelles, ainda que a lista de possíveis vices traga um pequeno número de homens, disseram fontes que acompanham a discussão. Segundo duas delas, a senadora Marta Suplicy (SP) seria uma possível escolha, mas ainda não teria conversado com Jucá.
O resultado da convenção desta quinta-feira também autoriza a Executiva do partido a deliberar sobre coligações com demais siglas.
Os 85 por cento favoráveis à candidatura de Meirelles superam a marca registrada há quatro anos, quando pouco mais da metade dos votantes chancelou a escolha de Michel Temer para integrar novamente como vice a chapa da então presidente Dilma Rousseff (PT).