Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A oposição aguarda apenas um posicionamento do STF sobre o rito do pedido de impeachment para retomar a pressão pelo andamento do processo contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional, afirmaram lideranças nesta segunda-feira, um dia após manifestações de rua contra o governo.
A avaliação é unânime em apontar que as mobilizações do domingo forneceram combustível ao processo de impedimento de Dilma, apesar de algumas situações de hostilidade voltadas a dirigentes da oposição, caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), alvos de vaias durante os protestos.
"O impeachment ganha uma energia extraordinária. Os parlamentares, agora, se vêm obrigados, claro que respeitando o rito, a votar o impeachment da presidente imediatamente, não se pode perder um minuto, temos que instalar o quanto antes", disse à Reuters o líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA).
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve analisar, a partir da quarta-feira desta semana, recursos sobre a decisão da corte de dezembro do ano passado, em que delimitou uma série de regras para a tramitação do processo de impeachment.
Assim que o tribunal se pronunciar sobre os chamados embargos de declaração, dará uma resposta definitiva sobre os questionamentos, destravando o andamento do processo, que aguarda análise na Câmara dos Deputados.
A tônica de que é preciso dar continuidade ao pedido com celeridade é a mesma do líder da bancada do DEM na Casa, Pauderney Avelino (AM), que encarou as manifestações como "históricas". O líder afirma que a população "passou um recado muito claro aos três Poderes da República".
"Agora cabe ao Congresso Nacional fazer sua parte, assim que houver a decisão do STF sobre o rito. No Congresso, as coisas tendem a andar mais rápido, sobretudo quando a população vai às ruas e faz essa cobrança", disse o deputado do DEM.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), avalia que o Congresso tem o dever de reagir e dar respostas às manifestações, sob o risco de criar "frustrações". Prefere, no entanto, a via judicial para encerrar o mandato de Dilma. Tramitam quatro ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa da presidente.
"Confio muito mais na saída do TSE. Em uma democracia doente como a nossa, com o quadro de infecção generalizada pela bactéria da corrupção, o único remédio é o voto para fazer nascer um governo legítimo", disse Lima à Reuters.
Se o TSE decidir pela cassação ainda este ano, perdem o posto Dilma e o vice Michel Temer e novas eleições terão de ser realizadas.
Os três líderes consideraram hiper dimensionadas as vaias e críticas a Aécio e Alckmin no domingo.
"Você tem lá 1 milhão de pessoas, e claro que ali você vai encontrar pessoas com os mais variados sentimentos. Isso não altera a estratégica, a gente recebe isto como uma mensagem, é absolutamente natural", disse Imbassahy.
As manifestações realizadas em todo o país contra o governo no domingo se transformaram em importante combustível para o processo de impeachment contra Dilma. Além disso, no sábado, o PMDB decidiu em convenção nacional dar um "aviso prévio ao governo".
Apesar de não ter formalizado o desembarque, o maior partido da coalizão governista anunciou que em até 30 dias a Executiva da legenda irá apreciar as moções que pedem a saída do governo ou pelo menos a declaração de independência das bancadas no Congresso, o deve fragilizar ainda mais a posição de Dilma.
Nesta segunda, o senador Romero Jucá (RR) afirmou que quando o partido decidir sobre ficar ou não no governo quem não quiser seguir a decisão terá de deixar a legenda.
Jucá disse que os peemedebistas não participam da condução política e econômica elaborada por Dilma.
"O processo de parceria entre governo e PMDB foi desfacelando, foi se deteriorando. Vou dizer que o partido ajuda setorialmente", disse. "Mas o momento é grave, a política é dinâmica e o PMDB não participa dessa condução política e econômica que está aí."