Jaime León.
Islamabad, 23 jul (EFE).- O Paquistão realizará nesta quarta-feira eleições gerais marcadas por dúvidas sobre sua legitimidade, devido a acusações de interferências por parte do Exército, além da volta do terrorismo com grandes atentados e a aparição na cena política de novos partidos com ideologias radicais.
O pleito tem como favoritos ao posto de primeiro-ministro Shahbaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N), e o ex-jogador de críquete Imran Khan, do Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI).
Bilawal Bhutto, à frente do Partido Popular do Paquistão (PPP) e filho da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, é o terceiro melhor cotado, segundo pesquisas, e pode exercer um papel decisivo na formação de um governo de coalizão.
Estas eleições são as segundas na história do país nos quais um governo completa um mandato, e abrirão passagem para a maior etapa democrática da sua história, após ter sido governado por ditaduras militares em metade dos 71 anos desde sua fundação, em 1947.
No entanto, partidos políticos, grupos de direitos humanos e meios de comunicação fizeram acusações de "manipulação" do pleito por parte dos "poderes estabelecidos", termo usado no país para se referir aos militares.
A LMP-N denunciou pressões na Justiça contra alguns de seus membros para que se desfiliassem e para evitar que o partido retorne ao poder - ele venceu as últimas eleições, em 2013.
Nawaz Sharif, líder da legenda e irmão de Shahbaz, está preso, cumprindo uma condenação de dez anos por corrupção, depois de ter sido inabilitado como primeiro-ministro em 2016 pelo Tribunal Supremo por não declarar um salário de uma empresa que pertencia a um de seus filhos.
O três vezes primeiro-ministro denunciou que foi suspenso porque seu governo acusou de traição nos tribunais o ex-ditador militar Pervez Musharraf, que o expulsou do poder em um golpe em 1999.
A LMP-N denunciou também pressões contra alguns dos seus candidatos para que mudem de partido na província de Punjab, seu reduto político e que abriga metade da população do país.
Para Bhutto, essas pressões têm como objetivo favorecer o PTI, de Khan, para que forme uma "aliança marionete", conforme acusou recentemente em um comício.
As denúncias dos dois partidos foram apoiadas pela ONG Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP), que pôs em dúvida a legitimidade das eleições "mais sujas" da história do país.
A HRCP também pôs em dúvida a liberdade de expressão durante a campanha eleitoral, especialmente dos veículos de imprensa.
Nesse cenário, a emissora de televisão "Geo" ficou em abril um mês fora do ar, sem que ninguém explicasse o motivo, e o jornal "Dawn" sofre com problemas de distribuição desde que publicou uma entrevista com Sharif em maio.
O Exército paquistanês negou que esteja interferindo no pleito e alegou que seu único papel é garantir a segurança da votação. Para isso, a corporação disponibilizará 370 mil soldados para evitarem distúrbios e fraudes nos colégios eleitorais no dia do pleito, o maior número da história do país.
Em meio a estas controvérsias, o terrorismo - que parecia controlado nos últimos anos - reapareceu com o massacre de 149 pessoas em um ataque suicida cometido em um comício na região de Mastung em 13 de abril, e cuja autoria foi reivindicada pelo Estado Islâmico (EI).
Três dias antes, 22 pessoas morreram e 60 ficaram feridas em um ataque suicida contra a sede de um partido regional na província de Khyber Pakhtunkhwa, no noroeste do país, no qual morreu o candidato e conhecido político Haroon Bilour.
Ao mesmo tempo, grupos radicais acusados de defender assassinos de supostos blasfemos, de cometer terrorismo internacional ou de matar membros de minorias religiosas vão concorrer nestas eleições.
Um desses grupos é o Ahle Sunnat Wal Jamaat, acusado de incitar a violência contra minorias religiosas como a xiita, e que estava proibido até o final de junho, quando o governo surpreendentemente suspendeu as restrições que pesavam sobre a legenda e seu líder, o clérigo sunita Ahmed Ludhianvi.