BRASÍLIA (Reuters) - O perito contratado pela defesa do presidente Michel Temer para analisar gravação do peemedebista com o empresário Joesley Batista disse ter convicção de que a gravação foi manipulada e chamou a Procuradoria-Geral da República de "ingênua e incompetente".
Em entrevista coletiva, o professor Ricardo Molina disse que a gravação não pode ser considerada tecnicamente autêntica e por isso não pode servir de prova.
"A minha convicção é que essa gravação foi manipulada... Eu vejo uma gravação contaminada", disse Molina, argumentando que o áudio tem mais de 50 interrupções.
Dizendo estranhar que uma gravação como essa tenha sido feita com uma gravador "tão vagabundo", Molina afirmou que o áudio tem um excesso de vícios, com trechos inaudíveis muito longos, e que mais da metade da fala de Temer é ininteligível.
O perito argumentou que é possível que algumas das descontinuidades da gravação tenham sido causadas pelo gravador de baixa qualidade, mas não todas.
Para ele, existem muitas descontinuidades que não têm explicação e que são pontos potenciais de edição. "Eu diria que sim, que houve edição. É mais provável que tenha havido", disse.
"É uma gravação tão contaminada que eu não posso levá-la a sério", resumiu.
A perícia de Molina foi um dos motivos que levaram a defesa de Temer a informar o ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no STF, que não viam mais necessidade de suspensão do inquérito, como haviam pedido no fim de semana.
Baseado na delação de Joesley Batista e outros executivos do grupo J&F, da qual faz parte a JBS (SA:JBSS3), o inquérito investiga Temer por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.
Mas a perícia de Molina desqualificando a gravação pode não ser suficiente para esfriar a crise política. Críticos do episódio têm dito que o fato de Temer ter admitido a conversa, na qual Joesley disse estar influenciando juízes e um promotor, e não ter feito nada já é grave o suficiente.
É o que avalia a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Antes mesmo da entrevista de Molina, a OAB informou que a decisão de pedir o impeachment contra Temer se baseou no que o presidente disse recentemente.
“A decisão que foi tomada pela Ordem dos Advogados do Brasil tem exatamente como base as declarações do próprio presidente da República", disse o presidente da OAB, Cláudio Lamachia, em entrevista coletiva. "O presidente da República em momento algum nega os fatos e nega a interlocução que teve.”
(Reportagem de Anthony Boadle e César Raizer)