(Reuters) - A Polícia Federal informou nesta segunda-feira que ainda não recebeu o gravador usado pelo empresário Joesley Batista para gravar conversa com o presidente Michel Temer, que foi requisitado pela PF para realizar uma perícia do áudio.
O áudio da conversa, cuja divulgação provocou uma grave crise política no governo Temer, foi enviado à Polícia Federal no domingo por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin para a realização de perícia na gravação, atendendo pedido da defesa de Temer.
Segundo a PF, no entanto, foram entregues apenas os áudios, e não o equipamento que realizou a gravação, o que levou a polícia a solicitar à Procuradoria-Geral da República que o gravador fosse apresentado ou que Joesley Batista, presidente da J&F e do conselho da JBS (SA:JBSS3), fosse instado a apresentá-lo.
Uma análise técnica preliminar do Instituto Nacional de Criminalística apontou, de acordo com a PF, que "é fundamental ter acesso ao equipamento que realizou as gravações originais". Segundo a polícia, não há prazo estipulado para conclusão dos trabalhos periciais, "especialmente diante da necessidade apontada de perícia também no equipamento".
O advogado de Joesley informou, segundo notícias da mídia, que o gravador está fora do país, e deve chegar ao Brasíl na terça-feira, quando será levado diretamente para a Polícia Federal.
A defesa de Temer pediu ao Supremo a suspensão de inquérito instaurado para investigar o presidente por suspeita de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça --em investigação aberta com base em acordo de delação fechado por Joesley--, até que se realize perícia do áudio da conversa gravada pelo empresário.
O plenário do STF deve analisar o pedido de suspensão do inquérito na quarta-feira.
Após o pedido da defesa de Temer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor do pedido de abertura de inquérito contra o presidente, se manifestou pela manutenção do inquérito no STF.
Janot afirmou, segundo comunicado, que não se opõe à perícia no áudio da conversa entre Temer e Joesley, mas disse ter certeza de que não possui nenhuma "mácula que comprometa a essência do diálogo". Para Janot, a perícia deve ser realizada sem qualquer suspensão do inquérito, uma vez que este se destina justamente à produção de elementos probatórios.
Temer enfrenta a maior crise de seu governo desde a divulgação da conversa gravada por Joesley, que acusou o presidente de ter dado aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Em declaração à imprensa no fim de semana, Temer desqualificou o empresário, a quem chamou de criminoso e falastrão. O presidente tem reiterado que não irá renunciar ao cargo apesar da crise.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)