BRASÍLIA (Reuters) - O delegado Igor Romário de Paula, coordenador da força-tarefa da Lava Jato na Polícia Federal, leu nota nesta segunda-feira na qual a PF rejeita a hipótese de que tenha havido qualquer vazamento indevido de informações da 35ª fase da operação, que resultou na prisão nesta manhã do ex-ministro Antonio Palocci, ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
A nota, lida antes do início da entrevista coletiva sobre a nova fase da Lava Jato, vem depois de o ministro dizer no domingo que haveria uma nova fase da Lava Jato nesta semana.
"Em relação à 35ª fase da operação Lava Jato, a Polícia Federal esclarece que adotou o mesmo padrão de compartimentação e cuidado com informação que caracteriza as quase 500 operações deflagradas neste ano", disse Paula, ao ler o comunicado em Curitiba.
"Somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo. Da mesma forma, as datas de desencadeamento de operações especiais de polícia judiciária são acompanhadas apenas pelos responsáveis pela coordenação operacional."
Segundo o comunicado, "como foi amplamente demonstrado em operações anteriores, o Ministério da Justiça não é avisado com antecedência sobre operações especiais".
O texto acrescenta, porém, que "é sugerido ao seu titular (do Ministério da Justiça) que não se ausente de Brasília nos casos que possam demandar sua atuação. Não informando sobre os detalhes da operação."
No domingo, em conversa com integrantes do movimento Brasil Limpo, que organizou atos de apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, o ministro da Justiça disse que haveria nova fase da Lava Jato nesta semana, segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.
"Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", disse Moraes, segundo a reportagem. Na semana passada, a 34ª fase levou à prisão, por algumas horas, do ex-ministro Guido Mantega, petista como Palocci.
Segundo a reportagem, a declaração foi feita de forma espontânea, sem que ninguém tivesse questionado o ministro. Horas após a declaração de Moraes, o Ministério da Justiça divulgou nota em que negou tratar-se de informação privilegiada do ministro em relação às ações da operação. De acordo com a assessoria de imprensa, a afirmação do ministro foi "força de expressão'.
O comunicado lido pelo delegado da PF em Curitiba termina dizendo que "a Polícia Federal, instituição do Estado brasileiro, reafirma sua atuação de acordo com o Estado democrático de direito".
Na manhã desta segunda, depois de um evento em São Paulo, Moraes afirmou que teve sua frase “truncada” e que apenas garantia aos movimentos sociais que as operações continuariam.
“Os movimentos estavam preocupados porque parte da imprensa vinha noticiando, eu diria mais, parte da imprensa vinha defendendo que a operação Lava Jato tinha que parar, que a operação Lava Jato tinha exagerado na quinta-feira com a prisão do ex-ministro Guido Mantega”, disse Moraes.
“Foi uma afirmação genérica porque as operações vão continuar. Hoje houve operação, essa semana deve haver mais operações, na semana que vem enquanto houver necessidade de operações a Lava Jato vai continuar.”
A fala de Moraes irritou o presidente Michel Temer e Moraes foi cobrado para se explicar, segundo fontes palacianas. A avaliação no Palácio do Planalto é que, ao dar a entender que sabia de antemão sobre a operação --anunciada aos movimentos em Ribeirão Preto, terra Palocci-- o ministro da Justiça dá munição a quem diz que Temer monitora e tenta interferir na Lava Jato.
As declarações do ministro foram avaliadas como “infelizes”, segundo as fontes.
(Por Lisandra Paraguassu)