Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal deflagrou nesta segunda-feira operação para investigar suspeita de fraude em fundos de pensão de estatais, com o cumprimento de mandados judiciais e o bloqueio de 8 bilhões de reais, determinado pela Justiça Federal de Brasília.
Foram expedidos 7 mandados de prisão temporária, 34 de condução coercitiva e 106 de busca e apreensão pela Justiça, que também determinou o sequestro de bens e o bloqueio de ativos e de recursos em contas bancárias de 103 pessoas físicas e jurídicas no valor aproximado de 8 bilhões de reais, segundo comunicado da PF.
A operação tem como objetivo, segundo a PF, apurar suspeita de crimes de gestão temerária e fraudulenta dentro dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil (SA:BBAS3)), Petros (Petrobras (SA:PETR4)), Postalis (Correios) e Funcef (Caixa Econômica Federal), tendo como base dez casos revelados a partir do exame das causas de déficits bilionários apresentados pelos fundos.
"Entre os dez casos, oito são relacionados a investimentos realizadas de forma temerária ou fraudulenta pelos fundos de pensão, por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações)", disse a PF em comunicado.
"Durante as investigações, alguns núcleos criminosos restaram configurados: o núcleo empresarial, o núcleo dirigente de fundos de pensão, o núcleo de empresas avaliadoras de ativos e o núcleo de gestores e administradores dos FIPs."
O empresário Wesley Batista, presidente-executivo da empresa de carnes JBS (SA:JBSS3), foi um dos alvos de mandados de condução coercitiva na operação.
A J&F, controladora da processadora de carne JBS e da Eldorado Brasil, confirmou a presença da Polícia Federal nas sedes da J&F e da Eldorado por ocasião da chamada operação Greenfield.
"A J&F e seus executivos esclarecem que colaboram com as investigações e estão à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários", afirmou a holding em comunicado à imprensa. [nL1N1BH0JN]
Apesar de representantes da holding afirmarem que a operação não envolve a JBS, da qual Wesley é presidente-executivo, as ações da JBS lideravam as perdas do Ibovespa, recuando mais de 4 por cento, enquanto o índice tinha alta de 0,3 por cento às 11h38.
De acordo com a Polícia Federal, o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS já condenado no âmbito da operação Lava Jato, também foi levado pela PF para depor nesta segunda-feira como parte da Greenfield. Separadamente, Pinheiro, que estava em prisão domiciliar em São Paulo, também teve o benefício revogado pela Lava Jato e deve ser levado de volta para Curitiba.
A PF ainda cumpriu mandado de condução coercitiva contra o empresário Walter Torre Junior, fundador e CEO da WTorre, de acordo com a construtura. Em nota, a WTorre disse que não teve e não tem nenhuma relação direta com nenhum dos fundos de pensão citados na operação da PF.
A polícia também fez buscas na casa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba também no âmbito da Lava Jato, segundo a mídia.
A PF e o Ministério Público Federal (MPF) disseram que não podem revelar os nomes das pessoas investigadas na operação devido a uma determinação judicial de sigilo que se encerra às 19h desta segunda-feira.
A ação conta com cerca de 560 policiais federais, além de integrantes do MP, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), espalhados pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Amazonas, além do Distrito Federal.
A operação foi batizada de Greenfield, em referência ao jargão dos negócios para investimentos que envolvem projetos incipientes ou ainda no papel, de acordo com a PF.
Em junho deste ano, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal já haviam deflagrado uma operação para investigar suspeita de desvio de recursos dos fundos de pensão Petros e Postalis na aquisição de debêntures do Grupo Galileo, com mandados de prisão para sete pessoas, incluindo o ex-diretor financeiro do Postalis Adilson Florêncio da Costa. [nL1N19G16P]
Procurados pela Reuters, Petros e Postalis não responderam de imediato a pedidos por comentários, enquanto o Funcef disse em nota que possui "rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes e assistidos", e afirmou estar à disposição das autoridades. A Previ, por sua vez, disse que a documentação requerida foi disponilizada e também se dispôs a colaborar.
(Reportagem adicional de Alberto Alerigi, em São Paulo, e Caio Saad, no Rio de Janeiro)