Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - As ações da Polícia Federal na manhã desta terça-feira, em desdobramentos da operação Lava Jato, preocuparam o Palácio do Planalto, que prevê ainda mais instabilidade política no país pelo fato de as investigações atingirem diretamente o PMDB, maior partido da base governista, e também o presidente da Câmara, o peemedebista Eduardo Cunha, disseram à Reuters três fontes palacianas.
A avaliação é que essa etapa da Lava Jato dá mais força à tese de que a corrupção tomou conta do Congresso e se aproxima do governo, o que pode piorar a situação política no momento em que o Planalto precisa enfrentar o pedido de abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e ainda não conseguiu votar todas as medidas importantes para o ajuste fiscal.
O governo teme, ainda, a reação de Cunha. O presidente da Câmara, mesmo envolvido em várias denúncias e com a Polícia Federal batendo à sua porta, ainda "tem a caneta" e pode criar problemas para o governo no Congresso, segundo as fontes.
Não apenas no processo de impeachment, mas nas votações importantes para o governo.
"Cunha pode engrossar com o governo, o que seria péssimo em um momento em que estamos enfrentando situações difíceis no Congresso", disse uma das fontes, sob condição de anonimato.
A Polícia Federal realizou ação nesta terça para cumprir mandados de busca e apreensão em residências de Cunha e contra dois ministros e outros políticos do PMDB, com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, responsável pelas ações decorrentes da Lava Jato na corte.
Os ministros alvo da operação da PF foram Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), eleito deputado pelo PMDB do Rio de Janeiro, e Henrique Eduardo Alves (Turismo), também do PMDB e ex-presidente da Câmara dos Deputados, segundo uma fonte do STF. O ex-ministro de Minas e Energia e atual senador Edison Lobão (PMDB-MA) e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) também foram alvo da ofensiva, de acordo com a fonte.
Para as três fontes do Planalto, está cada vez mais difícil blindar o Executivo contra os efeitos da Lava Jato, um fator imponderável crescente para o governo.
Oficialmente, o governo agiu rápido nesta manhã e emitiu uma nota à imprensa sobre as últimas ações da PF, defendendo que os fatos sejam esclarecidos "o mais breve possível" e que todos os investigados tenham direito de defesa, em uma tentativa de reforçar que o Planalto mantém a posição de não interferir nas investigações.
Mandados de busca e apreensão também foram autorizados no diretório estadual do PMDB de Alagoas, Estado do presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros. O deputado Gomes, um dos investigados, é próximo a Renan.
Para uma das fontes ouvidas pela Reuters, o fato de as ações da PF atingirem ala do PMDB encabeçada pelo presidente do Senado, que até agora mostrou-se mais fiel ao governo, pode gerar ainda mais instabilidade no Congresso e no governo.