Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto tenta construir uma terceira via para liderança do governo na Câmara, e os líderes da Casa foram informados, em reunião nesta terça-feira, que os deputados André Moura (PSC-SE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) – os dois nomes que surgiram na base até agora – não funcionam para o governo, disseram à Reuters duas fontes palacianas.
Apesar da pressão do chamado centrão da Câmara e do apoio do PMDB pela indicação de Moura, na reunião desta tarde com o presidente interino, Michel Temer, e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, os líderes partidários foram informados que teriam de encontrar um nome de consenso que não dividisse a base nem tivesse problemas com a Justiça e o carimbo de ligação com o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“O presidente não definiu. Essa questão é uma prerrogativa do presidente. Vamos conversar com os líderes e encontrar uma solução que signifique um diálogo com franqueza e clareza”, disse Geddel em entrevista depois da reunião.
O ministro negou que Temer tenha recebido indicação dos líderes e repetiu que a escolha será negociada.
Representantes do PMDB e dos partidos que formam o grupo (PP, PR, PSD, PSC, PTB, PHS) formalizaram a indicação com Temer na tarde desta terça-feira. “A escolha foi assinada por unanimidade pelo grupo de 300 deputados”, disse o líder do PHS, Givaldo Carimbão (AL).
PSDB, DEM e PPS não participaram da reunião do centrão e não chancelaram a indicação. A opção destes partidos é Rodrigo Maia, mas o nome do deputado fluminense está longe de ser consenso.
“Não é um nome que une a base. E não é o momento de se dividir”, disse uma das fontes.
Moura tem um apoio maior, mas enfrenta outros problemas. Um dos mais fiéis integrantes da tropa de choque de Cunha, Moura enfrenta resistências no Planalto por parecer uma infiltração do presidente afastado da Câmara, além de ter uma longa ficha judicial e estar sendo investigado pela operação Lava Jato.
O deputado sergipano é investigado, juntamente com outros oito deputados próximos a Cunha, por corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro em operações envolvendo o banco Schahin.
Moura ainda tem outros seis inquéritos no STF. Três deles por apropriação indébita, desvio de bens e formação de quadrilha na prefeitura de Pirambu, onde exerceu dois mandatos.
Há ainda um inquérito por suspeita de corrupção em dispensas de licitação na Assembleia Estadual de Sergipe e até uma acusação de homicídio.
No Senado, nomes de duas senadoras de partidos aliados do novo governo são ventilados nos corredores: Simone Tebet (PMDB-MS), e Ana Amélia (PP-RS). O assunto, aliás, seria um dos temas abordados pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), em encontro com Temer nesta terça-feira.
A escolha de uma mulher para o posto poderia amenizar as críticas de que não há mulheres na composição do primeiro escalão do governo interino.
Paira ainda a discussão sobre a liderança do governo no Congresso. Representantes do centrão advogam para que, dessa vez, seja um deputado a ocupar o posto.
O governo tem votações importantes pela frente. A maior delas, a da modificação na meta de superávit fiscal, que precisa ser votada até a próxima semana em sessão do Congresso.