Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Felix de Paiva, afirmou nesta quarta-feira à noite que os desdobramentos da entrevista do diretor-geral da PF, Fernando Segovia, à Reuters vai ditar o respaldo da categoria ao chefe da corporação.
Na entrevista concedida na última sexta, Segovia indicou que o chamado inquérito dos portos, que envolve o presidente Michel Temer, pode ser arquivado por falta de provas. Destacou que até o momento não há indício de crime contra Temer e ainda apontou que o delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, pode ser alvo de investigação interna pelas perguntas que ele fez ao presidente.
Paiva e outros quatro representantes da ADPF e da Federação Nacional de Delegados da Polícia Federal (Fenadepol) reuniram-se com Segovia nesta quarta a pedido dele mesmo.
No encontro, segundo o presidente da ADPF, Segovia disse ter sido mal interpretado e que houve distorções interpretativas em relação ao que afirmou na entrevista. Reconheceu, entretanto, que não deveria ter falado de investigações ainda em andamento.
O chefe da PF foi questionado sobre a possibilidade de o delegado responsável pela apuração ser punido, mas, conforme Paiva, Segovia disse ter comentado o assunto "em tese".
"Ele disse que sempre fala que toda a representação que chegar na polícia, se confirmado o excesso, poderia haver punição", disse, segundo o relato do dirigente.
Na conversa, Segovia garantiu-lhes que nunca fez nenhuma intervenção em investigações e não fará.
Paiva afirmou que ele e outros presentes ao encontro externaram o fato de estarem muito incomodados com ele falando numa entrevista de uma investigação em andamento, ainda mais com a sensibilidade do caso.
Para o presidente da ADPF, o sentimento atual é de aguardar os desdobramentos do caso, como as explicações que ele deve prestar ao ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, na segunda-feira, para a entidade se posicionar.
Questionado se ficou satisfeito com as explicações dadas, Paiva afirmou que não tem como ficar satisfeito diante da crise criada. "Se não tivesse falado, não teria essa crise toda. Por mais que tenha sido mal interpretado ou distorcido, o mal-estar já ocorreu e a Polícia Federal sangra desde sexta-feira com o mal-estar criado."
"Se houve algum tipo de intenção de ajudar o presidente, foi um tiro no pé e só coloca mais pressão no inquérito", disse ele, que comanda a entidade com 2,3 mil delegados da PF. Ele destacou que há uma crise de confiança na categoria.
Perguntado se a entidade dá respaldo político a Segovia, o presidente da ADPF afirmou que não é possível falar isso porque é preciso uma discussão mais ampla da diretoria juntamente com a representação da associação, que está nas 27 unidades da Federação.
Paiva disse que o grupo que atua nos inquéritos da Lava Jato, com quem conversou, está "insatisfeito". Para ele, esse grupo é extremamente técnico e se houver qualquer tipo de pressão eles vão agir conforme a lei manda.
O dirigente afirmou ainda ter conversado com o delegado responsável pelo inquérito dos portos antes de ele retornar ao país --estava em viagem ao exterior-- e que Cleyber Malta Lopes disse apenas que vai tomar pé da situação quando voltar.