Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Sem apoio na base, governistas decidiram fazer um último esforço nos próximos dias com deputados de partidos aliados para tentar votar, somente daqui a duas semanas, a nova versão da reforma da Previdência em primeiro turno no plenário da Câmara dos Deputados, afirmaram duas lideranças à Reuters.
Na prática, a mudança de estratégia sepulta a expectativa inicial do governo de tentar apreciar a proposta na semana que vem, conforme chegou a admitir em recente entrevista coletiva o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Aliado do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), escancarou a falta de apoio ao afirmar, na quinta-feira, que se está "muito longe" do número de votos para aprovar o texto --são necessários ao menos 308 votos entre os 513 deputados em dois turnos de votações na Casa.
Maia descartou colocar o texto em pauta na próxima quarta-feira, como pretendia o governo.
Por isso, aliados passaram a defender usar a próxima semana para avaliar o apoio real na base aliada e ver onde é possível conquistar votos.
"Vamos trabalhar para ter uma convergência de possibilidade de voto", afirmou o líder da maioria da Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES).
O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), foi na mesma linha.
"Teremos mais uma semana ou 10 dias para convencer a base", disse.
O governo passou a querer usar o jantar no domingo promovido por Maia na residência oficial da Câmara, que contará com a presença do presidente Michel Temer, como ponto de partida para a tentativa de conquistar apoios.
O presidente também quer buscar o apoio do PSDB, principal partido da base que em breve deixará o governo, ao marcar reunião no sábado com o governador de São Paulo e provável futuro presidente da legenda, Geraldo Alckmin.
O PSDB deverá se reunir na próxima quarta para discutir se vai fechar questão em favor da reforma, medida que significa que, quem votar contra poderá ser punido internamente.
A situação do governo, contudo, é bastante delicada. Enquete publicada nesta sexta-feira pelo jornal Folha de S.Paulo aponta que mais de 210 deputados votariam contra a nova versão da reforma, apresentada pelo deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA).
O líder da maioria minimizou os números da enquete e disse que o governo ainda não começou a consolidar os apoios que têm para votar a reforma.
Ele aposta que há uma "inquietação" da base para votar a reforma e defendeu que uma eventual troca na Secretaria de Governo, com a ida do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) para o lugar do tucano Antonio Imbassahy, poderia retirar a "justificativa" para aqueles que não querem votar a proposta e facilitar a sua apreciação.
"A substituição tiraria esse tema do discurso. É um elemento que tem de ser considerado", disse Coimbra, que também apoia se fazer novas concessões ao texto desde que elas não descaracterizem a proposta e garantam votos para passar a reforma.
Os governistas decidiram não mais "marcar data" da votação da proposta, embora defendam que ao menos tente se votar o primeiro turno dela antes do recesso parlamentar - previsto para iniciar exatamente daqui a três semanas.
A avaliação é que, se houver uma aprovação sólida, será possível encurtar os prazos regimentais e votar logo em seguida a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em segundo turno. Se isso não ocorrer, deixa-se a conclusão da votação da proposta para a volta do recesso, no início de fevereiro. O temor de governistas é que, ao adiar a votação da matéria para o próximo ano, haverá cada vez menos chances de ela passar em virtude da proximidade com o calendário eleitoral.