Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Senadores e deputados governistas quiseram imprimir novamente um clima de normalidade no Congresso nesta quarta-feira e tentaram votar medidas nas duas Casas, a despeito de protestos de parlamentares da oposição, e da tumultuada manifestação que ocorria do lado de fora contra o presidente Michel Temer e as reformas e pela realização de eleições diretas.
Se do lado de dentro do Congresso, nos plenários da Câmara e do Senado o embate foi duro entre governistas e oposição, do lado de fora cenas de violência tomaram conta da Esplanada protagonizadas por policiais e manifestantes.
Tendo como som de fundo os estampidos de bombas de efeito moral, a oposição na Câmara colocou em prática seu kit obstrução, com uma série de manobras regimentais para dar uma canseira nos aliados. Chegou, inclusive, a subir à Mesa em grande número, e formar um paredão de deputados com faixas contra o presidente. A sessão chegou a ser suspensa.
“Não podemos permitir que essa sessão continue, porque a gente não pode instaurar a normalidade aqui na Casa como se nada estivesse acontecendo, Não tem nada normal, a nossa democracia está gravemente ameaçada, e a gente tem que defender essa democracia”, disse à Reuters o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ).
“Eles estão fingindo que não estão entendendo o recado. As ruas estão tomadas de pessoas, mas olha, os empresários, o agronegócio, a bancada da bala, eles não querem ouvir o recados das ruas porque eles querem defender reformas que beneficiam a eles”, disse o deputado da oposição.
Por outro lado, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), defendeu o direito de livre manifestação, desde que sem depredação de patrimônio, e afirmou que tanto a Câmara quanto o Senado têm que “dar o exemplo”, não estimular a violência e seguir com as votações.
“Até porque a oposição tem muito menos voto do que a situação e quem quer votar é a situação”, avaliou. “As pessoas querem votar, os deputados querem votar, querem ter uma pauta, porque a economia não espera”, disse à Reuters. “Lógico que tem tumulto aqui e ali, mas a gente precisa votar.”
BANDIDO
No Senado, foram aprovadas uma série de projetos de decretos legislativos, mas os protestos da oposição se intensificaram após o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciar que Temer autorizou o uso das Forças Armadas na Esplanada dos Ministério para uma “ação de Garantia da Lei e da Ordem”.
Senadores oposicionistas apresentaram questões de ordem ao presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), pedindo que o Congresso Nacional se posicione sobre a medida de Temer.
“É grave demais o que nós estamos vendo aqui, grave demais, presidente. Nós não podemos continuar uma sessão aqui na normalidade como se não tivesse acontecendo nada. Acabaram de colocar as Forças Armadas nas ruas de Brasília para garantir lei e ordem. Vão fazer o que? Uma intervenção de guerra contra a população que está na Esplanada?”, questionou a líder do PT na Casa, Gleisi Hoffmann (PR).
“Eu lembro nas manifestações de julho que invadiram o Itamaraty. Pergunta, a (ex) presidenta Dilma (Rousseff) colocou as Forças Armadas na rua? Não. Em todas as manifestações que tivemos problema quem é que foi? Foi a Força Nacional”, completou a senadora petista.
Na mesma linha, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que tem defendido abertamente uma saída negociada de Temer, criticou o governo e o uso das Forças Armadas.
“É constitucional chamar as Forças Armadas. Mas beira a insensatez fazer isso em um momento em que o país pega fogo. Beira a irresponsabilidade. E faz isso de forma dissimulada, dizer que foi a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, que negou”, disse Renan no plenário do Senado.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu a atitude de Temer e disse que o governo fará fazer valer a sua maioria no Congresso.
De forma contundente, Jucá disse ainda que o governo “não está caindo” e que “não adianta fazer lista de candidato”, prometendo resistência a quem se opuser.
Sobre o uso das Forças Armadas, afirmou que o presidente estaria “desmoralizado” se permitisse que “incendiassem ministérios e ficasse por isso mesmo”.
Durante o confronto na Esplanada entre policiais e manifestantes, foram registrados vários focos de incêndio. Mais cedo, para garantir a segurança dos servidores, a Casa Civil determinou o fim do expediente e o esvaziamento dos ministérios. A avaliação era de que os servidores corriam risco de vida, já que a Esplanada havia se transformado em uma "praça de guerra".
“Está aqui o ofício por escrito do presidente da Câmara, pedindo forças, como pediu o Rio de Janeiro, como pediu a Bahia, como pediu o Espírito Santo", disse Jucá, da tribuna.
"Portanto, não me venham falar que há diferença no tratamento. Incendiário é incendiário, bandido é bandido, Black Bloc é Black Bloc, queira ser de central sindical, queira ser de qualquer tipo de outra entidade”, acrescentou. "Têm que ser tratados com rigor da lei, ainda mais na capital da República.”
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu uma versão diferente e afirmou, no plenário da Câmara que não pediu o uso das Forças Armadas, mas sim da Força Nacional de Segurança.
Depois, por meio de sua assessoria, divulgou o ofício encaminhado ao Planalto, solicitando a Força Nacional nas adjacências do Parlamento. Desde o início da tramitação das reformas, a Câmara foi invadida em pelo menos duas ocasiões e protestos em seus arredores também resultaram em tumulto.