Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer autorizou a entrada de tropas das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios para uma "ação de Garantia da Lei e da Ordem", informou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, nesta quarta-feira.
Segundo o ministro, as tropas serão usadas para proteger o Palácio do Planalto, o Itamaraty, o Congresso e os prédios dos ministérios. Mais cedo, para garantir a segurança dos servidores, a Casa Civil determinou o fim do expediente e o esvaziamento dos ministérios. A avaliação era de que os servidores corriam risco de vida, já que a Esplanada havia se transformado em uma "praça de guerra".
"O presidente da República faz questão de ressaltar que é inaceitável a baderna, o descontrole e não permitirá que atos como esses venham a turvar o processo que se desenvolve de forma democrática", disse Jungmann.
O decreto que autoriza o uso de tropas foi publicado nesta tarde, em edição extra do Diário Oficial, e prevê que as tropas das Forças Armadas possam ser usada para garantir a ordem no Distrito Federal por uma semana, até a próxima quarta-feira. Caberá ao Ministério da Defesa definir as áreas de atuação das tropas.
Jungmann, que estava acompanhado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, disse ainda que a decisão de Temer foi tomada em resposta a um pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
"Atendendo à solicitação do senhor presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mas também levando em conta fundamentalmente que uma manifestação que estava prevista como pacífica, degringolou na violência, no vandalismo, no desrespeito, na agressão ao patrimônio público, na ameaça às pessoas --muitas delas servidores que se encontram aterrorizados e que estamos neste momento garantindo a sua evacuação-- o senhor presidente da República decretou, repito, por solicitação do presidente da Câmara, uma ação de Garantia da Lei e da Ordem", anunciou Jungmann.
No Congresso, Maia deu uma versão diferente. Após ser criticado por deputados, o presidente da Câmara esclareceu que não pediu o uso de tropas das Forças Armadas para garantir a segurança do Congresso, mas da Força Nacional de Segurança.
"Eu quero deixar claro que meu pedido ao governo foi das Forças Nacionais...calma, calma.. do apoio da Força Nacional", disse Maia.
"A decisão tomada pelo governo certamente tem relação com aquilo que o governo entendeu relevante para garantir a segurança, tanto dos manifestantes como daqueles que trabalham na Esplanada."
Não eram só deputados que estavam indignados. No Senado, a líder do PT na Casa, Gleisi Hoffmann (PT-PR), criticou duramente a medida.
"É grave demais o que nós estamos vendo aqui. Nós não podemos continuar uma sessão aqui na normalidade como se não tivesse acontecendo nada. Acabaram de colocar as Forças Armadas nas ruas de Brasília para garantir lei e ordem. Vão fazer o que?", reclamou no plenário a senadora.
Gleisi pediu ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que o Senado editasse um decreto legislativo suspendendo o decreto presidencial, mas Eunício se recusou.
FALHA NA SEGURANÇA
A justificativa do governo para o uso das Forças Armadas foi de que não havia contingente disponível da Força Nacional de Segurança.
Temer assistiu ao recrudescimento da violência na manifestação pela televisão, enquanto se reunia com senadores do PMDB, quando decidiu convocar os ministros.
A avaliação no Planalto foi de que houve uma falha na organização da segurança feito pelo governo do Distrito Federal, que não conseguiu conter o acesso aos ministérios.
O Planalto tenta passar a ideia de que o protesto, que reuniu cerca de 35 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, não são contra o presidente, mas apenas contra as reformas propostas pelo governo, já que foram convocados há algumas semanas. Antes, portanto, de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter aberto um inquérito para investigar o presidente por obstrução da Justiça, participação em organização criminosa e corrupção passiva. No entanto, os gritos de "Diretas Já" e "Fora, Temer", dominaram a manifestação.