Por Doina Chiacu
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu neste domingo que seu filho se reuniu com russos em 2016 na Trump Tower para obter informações sobre sua adversária eleitoral Hillary Clinton, acrescentando que foi isso "totalmente legal" e "feito o tempo todo na política."
O presidente republicano havia dito anteriormente que a reunião era sobre a adoção de crianças russas por norte-americanos. A postagem de Trump no Twitter na manhã deste domingo foi sua declaração mais direta sobre o propósito da reunião, embora seu filho e outros tenham dito que era para reunir informações prejudiciais sobre a candidata democrata.
Em publicações no Twitter, Trump também negou relatos do Washington Post e da CNN de que ele estaria preocupado porque seu filho mais velho, Donald Trump Jr., poderia ter problemas legais por causa do encontro com os russos, incluindo um advogado com ligações com o Kremlin.
Trump repetiu que não ficou sabendo da reunião antecipadamente.
"Notícias falsas, uma invenção completa, de que eu estaria preocupado com o encontro que meu maravilhoso filho, Donald, teve na Trump Tower. Essa foi uma reunião para obter informações sobre uma adversária, algo totalmente legal e feito o tempo todo na política - e que não chegou a lugar nenhum. Eu não sabia disso!", escreveu Trump.
Campanhas políticas rotineiramente buscam informações sobre seus oponentes, mas não com representantes estrangeiros de um país visto como um adversário. Autoridades russas estavam sob sanções dos EUA na época.
O Conselheiro Especial Robert Mueller está examinando se os membros da campanha Trump se aliaram à Rússia para influenciar a corrida da Casa Branca em seu favor. Uma parte da investigação se concentrou na reunião em 9 de junho de 2016 na Trump Tower, em Nova York, entre Donald Jr., outros assessores de campanha e um grupo de russos.
Um e-mail divulgado pelo próprio Donald Jr. mostrou que ele estava interessado na reunião porque a campanha de seu pai estava recebendo a oferta de informações potencialmente prejudiciais sobre Clinton.
Donald Jr. disse mais tarde que pensou que a reunião visava principalmente fazer lobby contra a lei de sanções de 2012 de Magnitsky, que levou Moscou a negar aos norte-americanos o direito de adotarem órfãos russos.
O presidente Trump negou repetidamente que sua campanha trabalhou com Moscou, dizendo "Sem conluio!" Na semana passada, no entanto, ele adotou as táticas de seus advogados e passou a insistir que "conluio não é um crime".
Embora conluio não seja uma acusação técnica legal, Mueller pode apresentar acusações de conspiração se descobrir que algum membro da campanha trabalhou com a Rússia para violar a lei dos EUA. Trabalhar com um cidadão estrangeiro com a intenção de influenciar uma eleição nos EUA pode violar diversas leis, de acordo com especialistas jurídicos.
A CNN informou no mês passado que Michael Cohen, advogado pessoal de longa data do presidente, estava disposto a dizer a Mueller que Trump sabia sobre a reunião da Trump Tower com antecedência.
Os advogados de Trump e a Casa Branca deram relatos conflitantes sobre se Trump estava envolvido na elaboração da resposta de Donald Jr. para um artigo do New York Times no verão passado, revelando a reunião da Trump Tower com a justificativa da adoção. Os advogados de Trump reconheceram em uma carta à equipe de Mueller em janeiro de 2018 que Trump ditou a resposta, de acordo com o Times.
Trump intensificou seus ataques públicos à investigação de Mueller desde que o primeiro julgamento surgiu na semana passada em Alexandria, Virgínia, envolvendo o ex-chefe da campanha de Trump, Paul Manafort.
As acusações de fraude bancária e nos impostos que Manafort enfrenta não estão relacionados à campanha de Trump, mas as estreitas relações de Manafort com os russos e um político ucraniano apoiado pelo Kremlin estão sob escrutínio no julgamento.
Um dos advogados pessoais do presidente disse neste domingo que se Trump for intimado pelo conselho especial, seus advogados tentarão anulá-lo no tribunal.
Qualquer batalha legal sobre se o presidente pode ser obrigado a testemunhar pode ir até a Suprema Corte dos EUA, disse o advogado Jay Sekulow à ABC.
As agências de inteligência dos EUA concluíram no ano passado que a Rússia interferiu na eleição presidencial de 2016 em favor de Trump. Putin negou que seu governo estivesse envolvido.
Funcionários da inteligência norte-americana dizem que a Rússia está monitorando as eleições para o Congresso em novembro, que determinarão se os republicanos manterão ou não o controle de ambas as câmaras do Congresso dos EUA.
(Reportagem de Doina Chiacu, Damon Darlin, Lúcia Mutikani e Lesley Wroughton)