Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, classificou de "subversão extremamente perigosa" as manobras no Congresso para tentar abrir um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e que a oposição está tentando usá-lo como "instrumento de luta política".
As declarações foram dadas pelo ministro em entrevista logo depois da sua posse na Casa Civil, em cerimônia nesta quarta-feira no Palácio do Planalto. Wagner lembrou que o impeachment é uma ferramenta para ser usada na democracia quando forem comprovados crimes de responsabilidade de um governante.
"O perigo é que as pessoas trabalham com a figura do impeachment como se fosse um instrumento de luta política. O impeachment não trata de luta política. A luta política se trata no Parlamento, na eleição", disse Wagner, que assumiu a Casa Civil com o objetivo de ajudar na melhora da relação do Planalto com o Congresso.
"A tentativa de colocar como objetivo da oposição chegar ao impeachment por si só já está errado", afirmou o Wagner. "Estão há um ano falando na construção. Ninguém constrói impeachment. Não se busca motivos para fazer o impeachment. Essa é a subversão extremamente perigosa", disse.
"Eu respeito quem está pregando, mas evidentemente que discordo. É um péssimo uso de uma ferramenta extremamente de exceção e não de normalidade", afirmou.
Parte da oposição espera a rejeição das contas de 2014 do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para tentar abrir um processo no Congresso por crime de responsabildade. Wagner, no entanto, alega que isso não seria possível, já que há entendimentos no Supremo Tribunal Federal de que a rejeição seria relacionada com o mandato anterior, e não com o atual da presidente.
Ao receber o cargo de seu antecessor, Wagner fez um discurso rápido. Afirmou que não pretende ser um superministro e pediu que todos ponham "as diferenças menores de lado" pelo bem do país e que terá posições firmes, mas saberá "submetê-las ao confronto de ideias".
MERCADANTE: CRÍTICAS A TERCEIRO TURNO
Seu antecessor, Aloizio Mercadante – que agora volta para o Ministério da Educação – fez um discurso mais duro e demonstrou o incômodo por ter sido desalojado da Casa Civil. Disse suportar críticas, "mesmo quando injustas", e ter orgulho de servir ao governo em qualquer cargo. Em seguida, voltou disparar contra a oposição.
"Tenho pena daqueles que apostam no 'quanto pior, melhor' e nos interesses particulares e, muitas vezes, mesquinhos. Daqueles que manifestam desprezo pelo Brasil forte e democrático. E resistem a admitir as conquistas do país. Que acenam desavergonhadamente com o golpe e o terceiro turno e manifestam conteúdo de desprezo à democracia e ao voto popular", afirmou.
Mercadante ainda defendeu o ajuste fiscal, classificando-o como "inevitável" e acusando a oposição de ter responsabilidade nos problemas ao não deixar 2014 acabar. "O risco do golpismo é absoluto, não é administrável. Erros na administração da economia podem ser corrigidos, golpismo não. O pior é que clima de golpismo tenta esterilizar esforços pela economia e tenta impedir confiança de investidores", afirmou.