O Brasil assume nesta 6ª feira (1º.dez.2023) a presidência rotativa do G20, grupo que reúne os 19 países mais industrializados do mundo mais a União Europeia e a União Africana. É a 1ª vez que o país comandará o bloco no formato atual. O mandato vai até 30 de novembro de 2024.
O comando do bloco é tido pelo governo brasileiro como uma das principais oportunidades de projeção internacional da 3ª gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, sintetizou o lema brasileiro em declaração durante a abertura da Comissão Nacional do G20: “Se o ano de 2023 marcou o retorno do Brasil ao mundo, 2024 será o ano em que o mundo voltará ao Brasil”.
Um dos objetivos de Lula no cargo é discutir mudanças nos organismos de governança mundial, como a ONU (Organização das Nações Unidas), e instituições financeiras internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O petista reclama com frequência das atuais regras de empréstimo para países em desenvolvimento e critica a falta de capacidade das nações de chegarem a consensos sobre problemas atuais, como os conflitos entre Israel e o grupo extremista Hamas, no Oriente Médio, e entre Rússia e Ucrânia, na Europa.
No início do 1º ano do atual governo, Lula esperava se projetar como um dos principais líderes globais com capacidade de articular a resolução dos conflitos. Por uma série de fatores, dentre eles declarações controversas, o presidente perdeu espaço e acabou escanteado das conversas entre líderes de outros países.
A sede do G20 no Brasil também facilita a vida de Lula em outra seara. O presidente declarou que fará menos viagens internacionais em 2024 para focar sua atuação internamente. Disse querer visitar todos os Estados do país para vistoriar obras e ações do governo federal.
Por trás da promessa está a articulação para que o PT e partidos aliados aumentem o número de prefeitos eleitos no pleito do ano que vem. Esta é um dos principais objetivos de Lula para pavimentar o caminho para se reeleger em 2026.
Brasil no G20
Segundo o governo, os assuntos prioritários da presidência brasileira serão:
- combate à fome, pobreza e desigualdade;
- 3 dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental;
- reforma da governança global.
Ao longo do ano, o Brasil organizará e sediará mais de 100 reuniões técnicas e conferências ministeriais virtuais e presenciais. Os encontros devem se concentrar no Rio, mas há eventos previstos para cidades das 5 regiões do país. A 19ª cúpula de chefes de Estado está prevista para ser realizada de 18 a 19 de novembro de 2024, na capital fluminense.
A Comissão Nacional do G20 foi instalada em 23 de novembro em cerimônia no Palácio do Planalto. Lula participou do evento.
No G20, há duas faixas de atuação que se interligam: as chamadas Trilha de Sherpas e Trilha de Finanças. O sherpa brasileiro, responsável por supervisionar as negociações e coordenar a maioria dos trabalhos, é o diplomata Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.
A Trilha de Finanças é formada pelos ministros de economia dos países e presidentes de Bancos Centrais. A coordenadora brasileira é Tatiana Rosito, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.
Em 10 de setembro, Lula recebeu simbolicamente a presidência do G20 das mãos do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, na 18ª Cúpula de Líderes do G20, realizada em Nova Délhi. O indiano entregou o martelo que representa o cargo ao brasileiro.
Na época, Lula também deu uma declaração controversa em entrevista à jornalista indiana Palki Sharma, do Firstpost, em que disse que, se o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vier ao Brasil, não será preso.
Putin foi condenado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) em março de 2023 por suposto crime de guerra e por deportação ilegal e transferência ilegal de crianças de áreas ocupadas da Ucrânia para a Rússia. O Brasil é signatário do TPI. Depois da declaração, Lula criticou à adesão ao organismo e disse que poderia revê-la.