Um dos grandes obstáculos do diagnóstico de zika é que os atuais testes do mercado ainda apresentam risco de reação cruzada com o vírus da dengue, dificultando a diferenciação das infecções. Isso porque a principal proteína presente nestes vírus, a NS1, é muito semelhante entre os 2.
Um estudo conduzido por Instituto Butantan, Instituto Adolfo Lutz, USP (Universidade de São Paulo) e Unesp (Universidade Estadual Paulista) identificou 2 peptídeos da NS1 que detectam a presença de anticorpos específicos contra zika. Assim, podem ser usados para desenvolver novos testes mais precisos. O trabalho foi publicado na revista Viruses em fevereiro de 2023.
De 2015 a 2016, o Brasil enfrentou um dos maiores surtos de zika, com um aumento expressivo no número de recém-nascidos diagnosticados com microcefalia. A má formação do cérebro é a principal consequência da infecção em gestantes. Segundo o Ministério da Saúde, foram quase 2.000 casos confirmados de bebês com SCZ (síndrome congênita associada à infecção pelo vírus zika). Antes da epidemia, a média de casos era 9 por ano.
O 1º passo do estudo, feito no Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan, foi produzir anticorpos a partir da imunização de modelos animais com a proteína NS1 de zika, produzida em laboratório pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
“Após obtermos anticorpos monoclonais e policlonais específicos, fizemos testes para descobrir que partes da proteína NS1 eles reconheciam que eram de zika e que não cruzavam com dengue”, disse a pesquisadora Roxane Piazza.
A partir das sequências identificadas, foram desenvolvidos peptídeos sintéticos de NS1 em colaboração com o pesquisador Carlos Prudêncio, do Adolfo Lutz. Ao testar as moléculas com amostras de soro de pacientes, os cientistas encontraram 2 peptídeos capazes de detectar, de forma precisa, anticorpos antizika. Com isso, seria possível desenvolver testes para identificar anticorpos IgG e IgM e saber se a pessoa já esteve ou está infectada pelo vírus.
Outra abordagem, segundo Roxane, é fazer o caminho oposto: usar os anticorpos específicos de zika para detectar a presença do antígeno (proteína NS1) no sangue dos pacientes. “A NS1 é a proteína mais secretada pelo vírus durante a infecção e, portanto, é o principal alvo diagnóstico”, diz.
Os cientistas ressaltam que é questão de tempo até uma nova epidemia de zika acontecer. Por isso, o desenvolvimento de testes mais precisos é de extrema importância para o monitoramento da doença, especialmente para acompanhar as gestantes e prevenir a microcefalia. “Nosso objetivo é desenvolver técnicas e ferramentas para quando o zika voltar. Assim, estaremos muito mais preparados do que estávamos em 2015”, afirma Carlos.
Um estudo recente publicado na revista New England Journal of Medicine mostrou que a taxa de mortalidade em crianças de até 3 anos nascidas com SCZ é 11,3 vezes maior do que naquelas nascidas sem a condição. Outra pesquisa mostrou que, de 2015 a 2018, mais de 80% das mortes em crianças com SCZ ocorreu antes de completarem 1 ano de idade.
Casos de zika aumentaram em 2022
Em 2022, o Brasil registrou 9.000 casos prováveis de zika, sendo 591 em gestantes, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Em comparação a 2021, houve um aumento de 42% no número de casos da doença. Os Estados que mais registraram casos prováveis em gestantes foram Rio Grande do Norte (210), Bahia (53), Paraíba (53), Alagoas (48) e Pernambuco (43), concentrando 68,9% dos casos do país.
O vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como outras arboviroses como dengue e chikungunya. Os sintomas costumam aparecer de 2 a 7 dias depois da picada e podem incluir febre baixa, erupções cutâneas, dor de cabeça, dor nas articulações, dor muscular e conjuntivite. De acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), é possível que só 1 em cada 4 pessoas infectadas desenvolva sintomas.
Com informações do Governo de São Paulo.