Agência Brasil - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou hoje (25) que “de forma alguma” a meta de inflação está sendo abandonada. Campos Neto apresentou o Relatório de Inflação em entrevista coletiva virtual.
“A mensagem, de forma alguma, é que a meta está sendo abandonada ou que o Banco Central está passando a olhar a meta de uma forma diferente”, disse.
Campos Neto acrescentou que o BC tem instrumentos e que ainda há espaço para a política monetária por meio da taxa básica de juros, a Selic. “Temos instrumentos e olhamos esses instrumentos em ordem de prioridade. Acreditamos que a política monetária ainda tem espaço”, disse.
O BC já reduziu a taxa básica de juros em oito reuniões seguidas. O último corte ocorreu na semana passada de 0,75 ponto percentual para 2,25% ao ano.
Campos Neto destacou que a política monetária está estimulativa. Ele acrescentou que diferentemente da avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, agora o viés do BC é mais otimista em relação à atividade econômica.
Ele mencionou que há atualmente movimentos em direções opostas: medidas de isolamento levando as pessoas a fazem poupança como precaução e programas de estímulo à economia. “Isso gera uma pequena assimetria. A gente procurou colocar na mensagem os dois lados, falamos sobre o balanço de risco e a assimetria”, disse.
No Relatório de Inflação divulgado hoje, o BC prevê que a economia deve apresentar queda de 6,4% neste ano. As projeções para a inflação em quatro cenários diferentes para este ano variam de 1,9%, a 2,4%. Para 2021, de 3% a 3,2% e para 2022, de 3,2% a 3,6%.
Para 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu meta de inflação de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderá superar 5,5% neste ano nem ficar abaixo de 2,5% para ficar dentro da meta. Para 2021, a meta foi fixada em 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Crédito
Campos Neto destacou que mesmo com a previsão de queda da economia este ano, o crédito deve crescer puxado pela demanda das empresas.
Segundo ele, isso acontece porque o BC anunciou medidas para estimular a expansão do crédito em meio à crise. “Obviamente que em um momento de disrupção tão grande como esse a demanda de crédito sobe muito mais do que o sistema financeiro consegue oferecer mesmo com as medidas do Banco Central”, disse. Campos Neto acrescentou que as médias e pequenas têm uma demanda extraordinária no momento, acima da capacidade de atendimento pelos bancos, e que o BC adotou recentemente medidas específicas para esse segmento.
Câmbio
Sobre o câmbio, o presidente do BC reforçou que é flutuante, com cotação definida pelo mercado. Segundo ele, a atuação do BC tem o objetivo de suprir falta de liquidez (recursos disponíveis) e garantir funcionalidade. “Nossa forma de intervir não é para ter nenhuma banda de câmbio, nenhuma faixa de câmbio, nenhum limite. É mais para suprir os gaps [lacunas] de liquidez e às vezes porque entendemos que existe uma precificação relativa que está disfuncional e que acaba contaminando outros mercados”, disse.
Campos Neto afirmou ainda que o câmbio no Brasil tem sido mais volátil (apresenta fortes oscilações) nas últimas semanas em relação a outros países emergentes. Segundo ele, parte dessa volatilidade é explicada pela maior liquidez do real. Campos Neto citou também que notícias externas têm influenciado a cotação no Brasil.