Por Ricardo Brito
(Reuters) - O volume de chuvas em Porto Alegre em abril e até agora em maio, que causou uma histórica enchente com ao menos 149 mortes e milhares de pessoas desalojadas, já supera em quatro vezes a precipitação nos dois meses de 2023 e está duas vezes e meia acima da média histórica para o período, e a diferença ainda vai aumentar com chuvas previstas até o fim do mês, segundo dados da estação pluviométrica da capital gaúcha do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) obtidos pela Reuters.
Em Porto Alegre, segundo o Inmet, já choveu 597,5 milímetros em abril e maio (até o dia 14), ante 227,2 milímetros da média histórica para os dois meses completos e 149,7 milímetros nos dois meses completos no ano passado.
Somente no dia 2 de maio, por exemplo, choveu 108,4 milímetros na capital gaúcha, quase o mesmo volume que choveu na cidade em todo o mês de maio do ano passado, 114,8 milímetros.
Os dados do Inmet apontam ainda que a média pluviométrica de cinco estações no Rio Grande do Sul -- além de Porto Alegre, cidades importantes como Bento Gonçalves, Rio Grande, Pelotas e Santa Maria -- é de 664,24 milímetros no período. Esse número é quase três vezes a média histórica para abril e maio completos (247,22 milímetros)e mais que o triplo registrado no ano passado nos dois meses (197,22 milímetros).
Das cinco cidades, Bento Gonçalves -- localizada na Serra Gaúcha e a mais importante região vinícola do Brasil -- foi a que mais choveu entre abril e maio até o dia 14, com impressionantes 961,8 milímetros de chuva. É quase seis vezes a precipitação dos dois meses cheios no ano passado (164,2 milímetros) e quase quatro vezes a série histórica (254,6 milímetros).
Até esta quarta-feira, segundo dados da Defesa Civil do Estado, 446 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelas chuvas. Ao todo, 2,1 milhões de pessoas foram afetadas, 538 mil estão desalojados e 76 mil estão em abrigos.
Houve ainda 149 mortes confirmadas, com outras 108 pessoas desaparecidas e ainda 806 feridos.
Segundo o Inmet, as chuvas devem continuar a abater o Estado nos próximos dias. A previsão é que diminuam de intensidade no final de semana, mas retornem com força entre terça e quarta-feira da próxima semana.
"O Inmet destaca que, a princípio, não há uma previsão de vários dias consecutivos sem chuva no Rio Grande do Sul, o que seria ideal para os rios baixarem efetivamente e o solo secar. Portanto, deve-se manter o estado de atenção para o Estado", ressaltou.
O professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou à Reuters que é preciso aprender muito com esse evento climático extremo para amadurecer a cultura de prevenção aos desastres naturais.
"Isso é um trabalho duro, não tem solução mágica nisso, uma coisa específica que resolve fácil", afirmou ele, ao citar que é preciso melhorar o monitoramento, sistemas de alerta, legislações, planos diretores, entre outros.
Segundo Paiva, é preciso reconhecer esses extremos e fazer uma reconstrução se adaptando às mudanças climáticas. "Não adianta a gente se recuperar fazendo do mesmo porque aí a gente vai continuar em risco", destacou.
(Por Ricardo Brito, em Brasília)