O MPF (Ministério Público Federal) recebeu na 2ª feira (16.out.2023) pedido de investigação pela prática de “cura gay” contra a igreja frequentada pela apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Karol Eller, encontrada morta na 5ª feira (12.out). O documento afirma que a jovem de 36 anos participou de encontro evangélico para deixar de ser lésbica e pediu a “apuração de possível conduta de incitação ao suicídio”.
O texto é assinado pelos deputados federais Luciene Cavalcante (Psol-SP), Erika Hilton (Psol-SP) e Henrique Vieira (Psol-RJ). Os 3 acusam a Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Rio Verde, em Goiás, dos crimes de homotransfobia, tortura psicológica e incitação ao suicídio. Eis a íntegra do pedido (PDF – 3MB).
“Trata-se a conduta pelos representados da chamada ‘cura gay’, prática sem qualquer respaldo científico de reversão de pessoas homo e bissexuais para a heterossexualidade. Tal prática é vedada pela Resolução nº 1/1999 do Conselho Federal de Psicologia, já que a bi e a homossexualidade não constituem doença e nem distúrbio, por qualquer catalogação científica, levando apenas à negação da existência do sujeito, o que potencializa os casos de depressão e outras doenças psicológicas de quem é submetido”, afirmam os deputados.
Os congressistas declaram também que o princípio de liberdade religiosa não pode ser utilizado como argumento nesse caso, uma vez que a utilização de terapia de reversão sexual “colide com a integridade física e mental de LGBTQIAPN+ que se submetem a tal ato criminoso”.
De acordo com a solicitação, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Rio Verde teria representações não só em Goiás, mas também em outros Estados. Para os deputados, isso justificaria uma investigação a nível federal sobre o caso.
MORTE DE KAROL ELLER
Karol Eller foi encontrada morta em 12 de outubro depois de cair do prédio onde morava, em São Paulo. Nas redes sociais, a influenciadora de direita, conhecida por apoiar Bolsonaro e seus aliados políticos nas redes sociais, publicou a frase “perdi a guerra”. A postagem foi utilizada pelos deputados como um argumento para a tese da “cura gay”.
Em setembro de 2023, Eller compartilhou uma mensagem dizendo que deixaria de ser lésbica. “Que diminua eu, para que tu cresças, Senhor, mais, mais. Renúncia! Sim, eu renunciei à prática homossexual, eu renunciei vícios e renunciei os desejos da minha carne para viver em Cristo”, escreveu.
A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro respondeu a um post do ex-apresentador da Jovem Pan, Tiago Pavinatto, associando a morte de Karol Eller ao processo de reorientação sexual ao qual ela se submeteu. Ela escreveu que a causa da morte da influenciadora foi a depressão por conta de uma “vida de abusos”.