Um dirigente do União Brasil na cidade de Suzano (BVMF:SUZB3) está foragido desde terça-feira, 16, após ser alvo de mandado de prisão em uma operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Dario Reisinger Ferreira é suspeito de integrar um grupo supostamente ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que estaria promovendo fraudes em licitações em diversas cidades do Estado.
O Estadão procurou o diretório estadual do partido nesta quinta-feira, 17, para entender o que seria feito a respeito do assunto, mas não houve retorno. Ferreira, que é dono de um escritório de advocacia em Suzano e assumiu o cargo de presidente municipal do partido antes das eleições de 2024, não foi localizado.
O advogado entrou na mira da operação ao assinar pedidos de impugnação de editais e licitações no Tribunal de Contas do Estado e por atuar em nome de empresas suspeitas de terem sido criadas em nome de "laranjas" e com a única finalidade de perder licitações, segundo o Ministério Público, dando ares de legalidade ao conluio.
A investigação como um todo partiu de uma denúncia anônima em Guarulhos, na região metropolitana da capital, relatando que disputas para prestação de serviços terceirizados de limpeza estariam sendo direcionadas a uma empresa específica em várias cidades da região. Os promotores, então, colheram indícios de que servidores públicos estariam recebendo propina para favorecer empresas em contratos com prefeituras e câmaras municipais.
A organização criminosa ainda teria envolvimento direto do PCC com alguns integrantes e "laranjas" atuando como titulares de empresas sob suspeita. A facção criminosa ainda seria responsável por deliberar sobre a "sorte dos contratos, quando havia divergências entre as empresas". Os contratos com indícios de fraude somam, segundo os promotores, cerca de R$ 200 milhões em, pelo menos, 12 municípios.
Segundo o relatório, Ferreira estaria "extrapolando a atuação jurídica para aderir às condutas ilícitas do grupo" e atuando "não só em processos criminais, representando os interesses pessoais de integrantes, mas também com representações em nome próprio, visando a impugnar editais licitatórios para favorecer as empresas do grupo criminoso, tudo a garantir a competição simulada e vantagem nos contratos públicos".
O processo criminal em questão é contra Márcio Zeca, condenado por tráfico de drogas após ser flagrado transportando 200 porções de cocaína em fundo falso em um veículo Mercedes-Benz. Ele é defendido nos autos por Ferreira. Zeca também foi considerado como "integrante do PCC" em outra condenação na Justiça, mas ainda cabe recurso.
Ao autorizar o pedido de busca e apreensão nos endereços residenciais e comerciais do advogado, a juíza Priscila Devechi Ferraz Maia, da 5ª Vara Criminal de Guarulhos, afirmou que "as evidências até então colhidas trazem fortes indícios do envolvimento [...] nas atividades da associação ora investigada, em razão das mensagens obtidas com a quebra dos dados telemáticos deferida, tendo sido apontado na representação, inclusive, impugnação a edital de certame realizada em nome próprio."
Candidato a viceHá cerca de um mês, Ferreira concedeu uma entrevista ao Diário de Suzano e manifestou o desejo de concorrer como vice-prefeito na chapa de Pedro Ishi (PL), nome indicado pelo atual prefeito Rodrigo Ashiuchi, do mesmo partido, para o pleito de outubro. "Eu vou estar na campanha. Não sei se vai ser como vice, segurando bandeira, distribuindo santinho ou batendo de porta em porta."
O advogado alega no vídeo que o convite para comandar o União Brasil na cidade partiu de Renato Felix, vice-presidente conhecido como Renatinho e que é ligado à deputada estadual Solange Freitas (União Brasil), jornalista cujo reduto eleitoral é São Vicente.
"O União Brasil herda um pouco essa história (do DEM), mas é um partido novo. Tem uma nova cara, um novo jeito de fazer política, e eu tenho a honra de ser a cara do União Brasil em Suzano", declarou Ferreira. De acordo com o relato, ele estava à frente do diretório municipal desde julho de 2023 e, sem uma sede própria, cedia espaço ao partido em seu escritório.
Três vereadores presosA Operação Munditia resultou ainda na prisão de três vereadores paulistas: Flávio Batista de Souza (Podemos), conhecido como Inha, de Ferraz de Vasconcelos; Luiz Carlos Alves Dias (MDB), o Luizão Arquiteto, de Santa Isabel; e Ricardo de Oliveira (PSD), o Ricardo Queixão, de Cubatão. Apenas o MDB declarou à imprensa que expulsará o parlamentar, enquanto Podemos e PSD dizem acompanhar as investigações.
Os promotores afirmam no relatório que Inha tratou "diretamente com o dono das empresas contratadas pela Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos" sobre repartição de valores e atuou como "recebedor dos repasses escusos do grupo criminoso". Luizão, por sua vez, manteve "intenso contato" com um dos suspeitos e "registra preocupação com outras empresas que surgem na licitação, em razão do pagamento de propinas entregues a ele". Queixão também é suspeito de receber propinas decorrentes dos contratos firmados, "conforme dados telemáticos".
O Estadão tenta contato com a defesa dos vereadores. O espaço está aberto para manifestações.