Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Um grupo de 80 procuradores apresentou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, uma representação criminal para que ele abra uma investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo delito de incitação ao crime ao postar novamente em sua rede social --e depois apagar-- dúvidas sobre o processo eleitoral.
Os integrantes do MPF afirmaram que ao longo dos últimos anos Bolsonaro colocou em xeque as eleições e que, na madrugada do dia 10 para 11 de janeiro, dias após os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, chegou a publicar um novo vídeo levantando dúvidas.
No vídeo postado por ele e três horas depois apagado, há questionamento à regularidade da eleição presidencial de 2022, "endossando expressamente alegações de fraude na contabilização, e isso feito poucos dias após, frise-se, o maior episódio de depredação que Brasília já vivenciou".
"O vídeo mostraria um trecho de uma entrevista de um procurador do Estado do Mato Grosso do Sul, em que este defende que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria sido fraudada e que o voto eletrônico não seria confiável", disse o documento.
"No recorte publicado, referido servidor alega que 'Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE', e que 'Lula não foi eleito pelo povo brasileiro. Lula foi escolhido pelo serviço eleitoral, pelos ministros do STF e pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral'", destacou.
Os procuradores dizem que, embora isoladamente possa parecer inofensiva aos olhos desatentos, dentro do contexto o episódio "parece configurar uma forma grave de incitação, dirigida a todos seus apoiadores, a crimes de dano, de tentativa de homicídio, e de tentativa violenta de abolição do Estado de Direito, análogos aos praticados por centenas de pessoas ao longo dos últimos meses".
"Afinal, a posição de proeminência de Bolsonaro sobre uma porção expressiva da população (até decorrente do cargo que até outro dia exercia) confere a palavras um peso fundamental de endosso às campanhas de desinformação que, por sua vez, nesse momento em que vivemos, movem atos antidemocráticos graves e violentos. Esse peso fundamental, de fato, ficou explícito recentemente no interrogatório do cidadão preso suspeito de planejar um atentado a bomba e armado, nas imediações do aeroporto de Brasília; segundo ele, o que o fez comprar armas foram 'as palavras do Presidente Bolsonaro'", afirmou.
Aras foi nomeado e reconduzido ao cargo pelo ex-presidente e foi alvo de críticas por não ter levado adiante investigações contra o então chefe do Executivo.