O Palácio do Planalto viveu horas de apreensão nesta quarta-feira, 11, com nova ameaça de ataque, três dias após o ato golpista que tomou conta da Praça dos Três Poderes. Houve reforço da segurança e o Exército montou acampamento para defender a sede do governo, mas, na hora marcada para o início da "Mega Manifestação Nacional pela Retomada do Poder", um grito ecoou no Salão Nobre do Planalto. "Nunca mais vamos permitir um outro golpe no nosso País", disse Sônia Guajajara, ao tomar posse como titular do Ministério dos Povos Indígenas.
A plateia aproveitou a deixa para entoar o novo mote contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. "Sem anistia, sem anistia", pediam os convidados da cerimônia. "Estamos juntos para reconstruir a nossa democracia", afirmou Guajajara, dirigindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da transmissão de cargo. Em seguida, a nova ministra encaixou um cocar na cabeça de Lula.
Helicópteros ainda sobrevoavam o Planalto, o Batalhão da Guarda Presidencial continuava a postos e veículos da Força Nacional lotavam a praça quando, pouco depois das 19h, a tensão foi substituída pelo samba-enredo campeão do Carnaval de 2019. Foi assim que "Histórias para ninar gente grande", da Estação Primeira de Mangueira, invadiu o Salão Nobre na segunda posse do dia: a da jornalista Anielle Franco no Ministério da Igualdade Racial.
"Depois dos atentados sofridos por esta casa e pelo povo brasileiro, no último domingo, pisamos aqui num sinal de resistência a toda e qualquer tentativa de atacar as instituições e a nossa democracia", disse Anielle, que se emocionou ao lembrar da irmã, Marielle Franco, assassinada em março de 2018.
As duas ministras posaram para foto com a titular do Turismo, Daniela Carneiro, desgastada no governo após virem à tona suas ligações com integrantes da milícia no Rio. Deputada reeleita com a maior votação no Estado, Daniela é casada com o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, e foi indicada para o Ministério do Turismo pelo União Brasil.
O escândalo envolvendo as relações de Daniela com milicianos só foi ofuscado por causa da crise provocada pelos atos golpistas.
Injúria racial
Nesta quarta-feira, porém, não houve a "mega manifestação" prometida diante do Planalto. Depois das cerimônias, Lula sancionou uma lei que tipifica a injúria racial como crime de racismo. "Mas ainda existem mãos invisíveis por trás da tentativa de golpe", resumiu o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, numa referência aos financiadores do vandalismo.