O governo de Israel criticou nesta 5ª feira (19.out.2023) uma reportagem da BBC News sobre o bombardeio do hospital de Al-Ahli, na Faixa de Gaza. O perfil oficial do governo israelense afirmou em sua conta no X (ex-Twitter) que o conteúdo noticioso do veículo britânico era um “libelo de sangue moderno”.
Do inglês “blood libel”, o termo se refere as alegações históricas de que judeus assassinavam crianças cristãs ou não judias para usar o sangue das vítimas em rituais religiosos. As acusações eram comuns do antissemitismo na Idade Média e foram usadas pelo nazismo durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando a Alemanha tinha uma política de exterminar judeus em massa (o Holocausto).
“Ei, @BBCWorld, a partir desta manhã [19.out] seu libelo de sangue moderno sobre o ataque ao hospital continua ativa. Estamos de olho em você e agora todo mundo também”, disse o governo israelense, compartilhando uma reportagem da edição impressa do Daily Mail que reportava a crítica de Israel à BBC.
A reportagem da BBC se trata de uma transmissão no canal a cabo, realizada na 3ª feira (17.out) depois da explosão. Na ocasião, um repórter correspondente do veículo sugeriu que Israel era responsável pelo episódio, embora tenha afirmado que o governo israelense estava investigando a situação.
“Os militares israelenses foram contatados para comentar o assunto e disseram que estão investigando. Mas, dado o tamanho da explosão, é difícil ver o que mais poderia ter causado isso além de um ataque aéreo israelense ou vários ataques aéreos”, afirmou o repórter.
Na sua página de correções, a BBC afirmou nesta 5ª feira (19.out) que o repórter “ressaltou” que as fotos sobre o bombardeio não foram verificadas e não informou “em nenhum momento” que o caso se tratava de um ataque de Israel. O veículo, no entanto, disse que foi um “erro especular”.
“Isso não representa a totalidade da produção da BBC e qualquer pessoa que assista, ouça ou leia a nossa cobertura pode observar que mostramos as reivindicações opostas de ambos os lados sobre a explosão, mostrando claramente quem as diz e o que nós sabemos, ou não”, disse o veículo.
GUERRA DE VERSÕES
Os envolvidos na guerra apresentaram narrativas diferentes sobre o bombardeio do hospital de Al-Ahli, realizado na 3ª feira (17.out). Depois da explosão, o Hamas acusou Israel e declarou, em nota, que a explosão era um crime de “genocídio” e revelava “o lado feio do inimigo e seu governo fascista e terrorista”.
Na 4ª feira (18.out), a agência de notícias estatal da Palestina, Wafa, disse que “depois de bombardear um hospital […] Israel cometeu outro massacre horrível ao bombardear uma mesquita em Nuseirat”.
Já Israel afirmou, com fotos, vídeos e áudio, que a explosão que atingiu o hospital foi causada por um foguete do grupo Jihad Islâmica. Disse que, no início da noite de 3ª feira (17.out), cerca de 10 foguetes haviam sido disparados por essa organização de um cemitério próximo ao hospital.
Os Estados Unidos também se manifestaram sobre o caso. O presidente do país, Joe Biden, disse que o bombardeio não foi promovido por Israel. “Com base no que vi, parece que foi feito pela outra equipe, não por vocês”, disse o norte-americano ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na 4ª feira (18.out).
Além do que foi dito por Biden, um relatório preliminar do Conselho de Segurança Nacional norte-americano indica que Tel Aviv não é responsável pela explosão. A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que deve fazer uma investigação própria sobre o caso.