Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em mais um movimento brasileiro para tentar avançar uma proposta de mediação de paz na guerra da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou nesta quinta-feira com o presidente do país, Volodymir Zelensky, logo depois do chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, ter confirmado sua intenção de vir ao Brasil em abril, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
"Tive uma reunião por vídeo agora com o presidente da Ucrânia, @ZelenskyyUa. Reafirmei o desejo do Brasil de conversar com outros países e participar de qualquer iniciativa em torno da construção da paz e do diálogo. A guerra não pode interessar a ninguém", disse Lula em publicação no Twitter logo após o telefonema, realizado a pedido do ucraniano às 15h.
Durante a conversa, de cerca de meia hora, Zelensky convidou Lula a visitar Kiev. A resposta do presidente, de acordo com uma fonte que acompanhou a conversa, foi que uma viagem poder ser acertada em algum momento, à luz de algum avanço nas discussões sobre um acordo de paz.
Zelensky agradeceu a Lula pelo fato do Brasil ter votado a favor da resolução sobre Ucrânia no Conselho de Segurança das Nações Unidas e também por ter conversado com os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, da França, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, sobre a possibilidade de formação de um grupo para negociar a paz entre Rússia e Ucrânia. Também elogiou a iniciativa do brasileiro de tentar atrair a China para a negociação.
O presidente ucraniano pediu, ainda, que Lula analise a proposta de 1O pontos para a paz, preparada pela Ucrânia no ano passado e apresente sugestões.
De acordo com a fonte, o Brasil recebeu já a proposta da vice-primeira ministra ucraniana Yulia Svyrydenko, na sua posse. Recentemente, a China fez também uma proposta que está sendo analisada pelo governo brasileiro, que vê pontos positivos em ambas.
Lula fez questão de ressaltar a Zelensky a defesa do Brasil da integridade territorial da Ucrânia, e se dispôs ainda a falar também com o presidente russo, Vladimir Putin.
Na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, teve um encontro com o chanceler russo às margens do encontro de ministros do G20, na Índia. Do encontro, saiu a intenção de Lavrov vir ao Brasil em abril, como primeira etapa de um giro pela América Latina.
Desde antes de assumir o governo, Lula tem dito que é preciso criar um grupo para trabalhar pela paz entre Rússia e Ucrânia e colocou o Brasil no centro da discussão ao levar o assunto para diversos presidentes.
Durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz, em janeiro, chegou a dizer que queria ver a China "por a mão na massa" - o país asiático é, hoje, o que mantém a melhor relação ainda com a Rússia. Lula irá a China no final deste mês.
Na semana passada, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia completou um ano, Zelenskiy disse que gostaria de participar de uma reunião de cúpula com países da América Latina.
No ano passado, em entrevista à revista Time quando ainda era candidato à Presidência, Lula disse que tanto o presidente russo, Vladimir Putin, quanto Zelenskiy eram responsáveis pelo conflito. Na ocasião, o petista disse que Zelenskiy "quis a guerra" e, se não quisesse, "teria negociado um pouco mais", embora tenha reafirmado que Putin "foi errado" em invadir o país vizinho.
Nos últimos dias, no entanto, Lula tem defendido publicamente a mediação de um grupo de países em busca do fim do conflito, que teve fortes impactos na economia global.
Também na semana passada, em votação na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil abandonou a postura neutra que vinha adotando em relação ao conflito e votou a favor de uma resolução, aprovada com 141 votos favoráveis e 32 abstenções, que exige que Moscou tire suas tropas da Ucrânia e pare de lutar.
Já Zelenskiy, que tem recebido amplo apoio dos Estados Unidos e de países da Europa integrantes da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), inclusive por meio do envio de bilhões de dólares em armamento, afirmou em entrevista coletiva em Kiev no aniversário de um ano da guerra, na semana passada, que pedirá uma reunião de cúpula entre a Ucrânia e líderes da América Latina.
Na ocasião, ele se disse disposto a ir pessoalmente a um encontro do tipo, caso ele ocorra, mesmo que fora do território ucraniano.
O presidente da Ucrânia disse ainda que quer que países da África, além da China e da Índia, participem de um plano de paz.
Um ano após a invasão russa, a guerra na Ucrânia tem se concentrado em combates de trincheira no leste e no sul daquele país, com poucas avanços de lado a lado nos últimos meses.
Moscou, que declara ter anexado partes do território ucraniano, afirma que a guerra é uma "operação militar especial" destinada a "desnazificar" a Ucrânia e garantir a segurança da Rússia e de falantes de russo no país vizinho.
Kiev e seus aliados ocidentais afirmam se tratar de uma guerra não justificada de agressão que visa a tomada de território.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões)