Lula dribla evento esvaziado e diz que democracia “ainda está aqui”

Publicado 08.01.2025, 15:37
Atualizado 08.01.2025, 16:10
© Reuters Lula dribla evento esvaziado e diz que democracia “ainda está aqui”
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou o evento de 2 anos dos ataques de 8 de Janeiro nesta 4ª feira (8.jan.2025) para surfar na onda do filme que concorreu ao Globo de Ouro, “Ainda Estou Aqui” e teve Fernanda Torres como vencedora da categoria “Melhor Atriz em Filme de Drama” .

Depois de citar que não teria problema o ato ter poucas pessoas, disse que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os extremistas do 8 de Janeiro de 2023: “Ainda estamos aqui”.

“Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos, e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de Janeiro de 2023”, declarou em evento simbólico para lembrar os 2 anos dos atos.

Assista à íntegra do discurso de Lula (21min21):

O evento começou esvaziado no Planalto, sem a presença dos presidentes do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal). Depois, o ato seguiu para a Praça dos Três Poderes. Cerca de 1.200 pessoas compareceram ao local. A estimativa do Poder360 foi feita a partir de fotos e vídeos, bem como o monitoramento no local do ato.

Antes de descer a rampa do Palácio do Planalto, Lula se resguardou e disse que basta uma pessoa subir em um palanque para defender a democracia.

“Eu vi a preocupação com alguns meios de comunicação se ia ter muita gente, pouca gente, se era fracassado ou não. Eu queria que as pessoas soubessem o seguinte: um ato de defesa da democracia mesmo que tivesse um só cara, uma só pessoa num palanque falando de democracia já é o suficiente para a gente acreditar que a democracia vai reinar neste país”, declarou.

O público da cerimônia oficial teve número reduzido de autoridades, compareceram os ministros do petista que não estavam em férias e os comandantes das Forças Armadas. Entre os deputados, por exemplo, só líderes governistas e petistas fizeram número no Salão Nobre do Planalto.

Os chefes do Legislativo e do Judiciário também não compareceram. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), está em férias no exterior. Arthur Lira (PP-AL), da Câmara, também está fora de Brasília. Luís Roberto Barroso, presidente do STF, foi representado pelo ministro Edson Fachin.

CERIMÔNIA EM 4 ATOS

Lula escalou a primeira-dama Janja da Silva para fazer o discurso inaugural da cerimônia de 2 anos do 8 de Janeiro no Planalto. Mesmo sem cargo no governo, ela reforçou sua posição de destaque no governo.

Ela falou no 1º de 4 atos planejados para a cerimônia, na Sala de Audiências do palácio. Discursou por cerca de 8 minutos citando a restauração de obras de arte, a importância da cultura e artistas para a manutenção da democracia e alfinetando a administração do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O momento do discurso da primeira-dama marcava a reinauguração do relógio de Balthasar Martinot, do século 17, destruído na invasão ao Planalto. Foi consertado na Suíça sem custos para o governo brasileiro. Também foi o anúncio do fim do processo de restauro das obras de arte, com a entrega de 20 peças restauradas no Palácio da Alvorada.

Em sua fala, ela afirmou que “o ódio tentou sufocar a esperança” há 2 anos e que a memória é o antídoto para o autoritarismo.

“No dia 1º de janeiro de 2023, vivíamos um momento histórico de esperança e de novos tempos. Vibrávamos que o amor tinha vencido o ódio. Uma semana depois, o ódio ocupou esse espaço tentando sufocar a esperança. Mas eles não conseguiram e, hoje, estamos aqui”, afirmou. Eis a íntegra (PDF – 69kB).

Depois, o petista e Janja descerraram a obra “As Mulatas”, de Di Cavalcanti (1897-1976), danificada pelos manifestantes há 2 anos.

O 3º ato foi a cerimônia formal no Salão Nobre do Planalto. Lotado com ministros, de Lula e do STF, apoiadores do governo e representantes de movimentos sociais.

O 1º discurso foi da deputada Maria do Rosário (PT-RS), em nome da Câmara dos Deputados. Ao citar o ausente Arthur Lira, ouviu um ensaio de vaias vindas da militância presente.

O mesmo movimento repetiu-se minutos depois, já durante o discurso de Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), senador e vice-presidente do Senado, também ao citar Lira.

Este, entretanto, fez um aceno ao ministro da Defesa, José Múcio, visto como apaziguador das Forças Armadas, ligadas ao ex-presidente Bolsonaro.

“Se faz justiça que entre membros das forcas houve aqueles que não se predispuseram a subjugar-se à infâmia dos que tentavam e tramavam contra as vidas como a do presidente Lula, do vice-presidente Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. É necessário que façamos justiça porque não podemos tratar igualmente os que são desiguais”, afirmou o senador.

Depois, nesta ordem, discursaram o ministro Edson Fachin, vice-presidente do STF, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Por fim, Lula tomou a palavra para listar todas as últimas vezes que temeu por sua morte, desde que escapou do plano de assassinato de um bando de “aloprados”. Durante a parte improvisada do discurso, o petista ainda citou pane de avião e queda no Alvorada, quando bateu a cabeça.

A principal gafe, entretanto, foi quando o petista disse que os homens são mais apaixonados pelas amantes do que pelas próprias mulheres. A ideia era dizer que ele era um amante da democracia, mas a frase repercutiu mal até entre os apoiadores que aplaudiam e gritavam “sem anistia” a cada pausa no discurso lulista. Janja lançou um olhar de reprovação.

“Somente em um processo democrático a gente pode conquistar isso. É por isso que eu sou um amante da democracia. Não sou nem marido, eu sou um amante da democracia, porque, na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres. E eu sou um amante da democracia porque eu conheço o valor dela”, declarou.

O último ato foi a descida da rampa. Na fila principal estavam:

  • Lula, presidente da República;
  • Janja, primeira-dama;
  • Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro da Indústria;
  • Lu Alckmin, mulher de Alckmin e segunda-dama;
  • Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), vice-presidente do Senado;
  • Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça;
  • Maria do Rosário (PT-RS), deputada federal;
  • Reginaldo Lopes (PT-MG), deputado federal
  • Jorge Messias, ministro da AGU (Advocacia Geral da União);
  • Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário.

Na praça, os aliados gritavam “sem anistia” e escreveram a palavra “democracia” no chão com flores amarelas. Ao final, cada um levou um buquê consigo.

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