As campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) colocam foco total nos eleitores do Sudeste na reta final da disputa pelo Planalto. A região concentra 42% dos eleitores deste ano e é onde os dois lados acreditam que há espaço para crescer, pois, entre outros fatores, é a parte do Brasil que mais depositou votos em candidatos que não eram nem Lula, nem Bolsonaro no primeiro turno. Só em São Paulo, quase três milhões de eleitores votaram em outros nomes.
De acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, o Sudeste também é a região onde houve maior variação de intenção de voto nos últimos dias - Bolsonaro está com 50% dos eleitores da região, e Lula é o preferido de 43%. O petista lidera no Nordeste, enquanto Bolsonaro aparece à frente no Sul e no Centro-Oeste - os dois empatam no Norte do País.
A disputa centrada entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro tem levado a uma sobreposição de agendas dos dois candidatos e seus aliados. Os próximos dois dias são exemplos claros: Lula e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, dividem praticamente o mesmo roteiro. Do Rio de Janeiro, onde ambos fizeram campanha nesta quinta-feira, 20, os dois viajam a Minas Gerais nesta sexta-feira, 21, e fazem atos na região de Belo Horizonte no sábado, 22.
A campanha de Lula tem acompanhado com apreensão as pesquisas eleitorais. Embora mostrem o petista de maneira sólida à frente de Bolsonaro, os levantamentos indicam uma disputa mais concorrida do que se previa até o primeiro turno. A decisão do entorno de Lula, portanto, é intensificar a campanha de rua onde entendem que ainda há votos em disputa.
Agendas do petista fora do Sudeste foram canceladas. Quando saiu de São Paulo para viajar ao Rio Grande do Sul na última quarta-feira, o próprio ex-presidente ironizou a decisão da campanha de levá-lo ao Estado na reta final e disse, durante um evento, que iria a Porto Alegre tentar conseguir "um voto" a mais. Lula teve 49% dos votos em Porto Alegre, na capital gaúcha, ante 39% para Bolsonaro. No Estado, no entanto, Bolsonaro saiu vitorioso.
Para compensar um desempenho melhor de Bolsonaro em São Paulo e Rio de Janeiro, os aliados do petista tentam bloquear o avanço do atual presidente em Minas Gerais. No primeiro turno, Lula recebeu 5,8 milhões de votos no Estado, aproximadamente 560 mil a mais do que Bolsonaro.
Os trackings do PT, monitoramentos diários de intenção de votos encomendados pelo partido, indicam tendência de melhora para Bolsonaro no Estado. A estratégia da campanha, portanto, é trabalhar para aumentar a vantagem no local de modo a compensar resultados favoráveis a Bolsonaro em São Paulo e no Rio - desde que os últimos dois não entreguem ao presidente uma vitória acachapante.
Os petistas tentam conter a ofensiva do governador mineiro, Romeu Zema (Novo), reeleito no primeiro turno, sobre os prefeitos do Estado. Apoiador de Bolsonaro, Zema levou o presidente a evento da Associação Mineira de Municípios (AMM) com 687 prefeitos na semana passada.
Lula estará em Minas nesta sexta-feira, 21, e no sábado, 22. Na terça-feira, 18, Bolsonaro esteve no Estado, com atos em Juiz de Fora e Montes Claros. A decisão do petista de passar dois dias no Estado foi tomada de última hora. Até o início da semana, a previsão da campanha era fazer um evento com Lula em Manaus no sábado. A viagem ao Norte do País, no entanto, não vai mais acontecer.
O petista visitará Teófilo Otoni, Juiz de Fora e a região metropolitana de Belo Horizonte. A primeira cidade é considerada um símbolo do Estado da situação atual da disputa. Na região do Vale do Mucuri, Teófilo Otoni votou em Zema e em Lula no primeiro turno, mas o petista ficou à frente de Bolsonaro por uma margem apertada. Será a primeira viagem em que o ex-presidente contará com a presença da senadora Simone Tebet (MDB) ao seu lado. A campanha petista acredita que a terceira colocada na disputa à Presidência tem capacidade de ajudar na atração de indecisos e diálogo com a classe média.
Antes da eleição, Lula deve ir ao menos mais uma vez a Minas Gerais, a única viagem prevista até o momento além da ida ao Rio de Janeiro para o último debate presidencial, que será transmitido pela TV Globo. Nesta quinta, Lula esteve em São Gonçalo (RJ), onde seu adversário fez campanha dois dias antes, e em Padre Miguel (RJ).
Na campanha de Bolsonaro, São Paulo foi colocado na primeira posição de destinos do presidente, graças ao histórico de votação antipetista e ao tamanho do colégio eleitoral. A dianteira que Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu na disputa pelo Bandeirantes também motivou a campanha bolsonarista, que agora espera que o presidente conquiste ao menos 60% dos votos paulistas. Tarcísio já falou em entrevistas a jornalistas que quer conquistar eleitores da capital paulista, onde Lula e o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, tiveram desempenho melhor.
Bolsonaro ainda prepara novas agendas na capital paulista, onde a campanha de Lula fica baseada, contando não apenas com o palanque de Tarcísio de Freitas, mas também do governador do Estado, Rodrigo Garcia (PSDB). Bolsonaro estará em São Paulo em ao menos quatro dos últimos 10 dias de campanha.
Nesta quinta-feira, o presidente se reuniu com centenas de prefeitos aliados, ao lado do governador tucano, e depois foi ao Palácio dos Bandeirantes em jantar oferecido por Garcia. Ele fica na cidade até domingo, onde também deve participar de eventos com religiosos.
Em discurso com os prefeitos em São Paulo, Bolsonaro pediu empenho para sua reeleição e disse acreditar que "já virou" o resultado em Minas, embora as pesquisas de opinião não indiquem isso até o momento. "Venho pedir a vocês mais que voto, trabalho e empenho", disse Bolsonaro.
O embarque de Zema na candidatura de Bolsonaro faz com que a campanha do presidente acredite que há chance de conquistar eleitores em municípios que preferiram Lula no primeiro turno, mas ajudaram a reeleger o governador mineiro no primeiro turno. Um deles é Juiz de Fora, localizado na Zona da Mata mineira. No município, Zema teve 20% a mais de votos que Alexandre Kalil, do PSD, apoiado pelo petista. O ex-presidente também saiu na frente, com 52,6% dos votos válidos no local.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro também concentra agenda paralela à do marido no Sudeste. Ela esteve em quatro encontros na capital paulista na última quarta-feira ao lado de Tarcísio, da senadora eleita Damares Alves (Republicanos) e de lideranças bolsonaristas. Na quinta, Michelle seguiu ao Rio, onde Lula estava, nesta sexta-feira irá ao interior de Minas e no sábado, ainda cumpre agenda em Belo Horizonte. Na região metropolitana da capital mineira, Lula e Michelle farão atos simultâneos separados por pouco mais de 10 quilômetros. Os atos com Michelle estão sendo considerados decisivos para contornar a rejeição a Bolsonaro no público feminino e também reverter danos após o presidente ter tido fala divulgada em que diz ter "pintado um clima" com adolescentes venezuelanas.