Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a posse de Alozio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para destacar a necessidade de o BNDES voltar a ser um banco indutor do desenvolvimento do Brasil.
"Este país tem que ser reconstruído e a gente não pode demorar... por isso que eu acho que o BNDES precisa urgentemente, companheiro Aloizio... que você faça este banco voltar a ser o banco indutor do desenvolvimento, do crescimento deste país", disse Lula em seu discurso.
Lula rebateu o que chamou de mentiras que foram divulgadas sobre o banco nos últimos anos, defendendo os projetos de financiamento de obras em outros países e argumentou que nações que ainda não pagaram suas dívidas com o banco de fomento certamente pagarão, sem detalhar como espera que isso aconteça.
O presidente disse que o banco não pode emprestar para quem não tem condições de pagar, mas se Estados e municípios tiverem possibilidade de endividamento para financiar obras, devem contar com a ajuda do BNDES, assim como do Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), da Caixa Econômica Federal e de outros bancos públicos.
"Na crise de 2008, se não fosse o BNDES esse país tinha afundado", disse Lula referindo-se à crise econômica global daquele ano.
O presidente criticou ainda a forte redução de desembolsos do BNDES para financiamentos, ao mesmo tempo em que transferiu grandes somas para o Tesouro Nacional, o que também foi apontado por Mercadante.
"Se o BNDES é um banco de desenvolvimento e a gente percebe que quando ele investe, a economia cresce, quando ele não investe a economia não cresce, eu fico me perguntando como é que nós vamos investir em obras de infraestrutura nesse país."
Em seu discurso, Mercadante disse que a participação da indústria nos desembolsos do BNDES caiu para 16% em 2021 ante 56% em 2006 e defendeu uma reindustrialização do país por meio de foco em descarbonização e reciclagem e pesquisa aplicada.
"Vamos colocar a indústria no topo das ações estratégicas do BNDES", disse Mercadante, sem dar detalhes.
Lula também destacou que o BNDES precisa privilegiar micro e pequenos empreendedores e Mercadante defendeu que o banco precisa ter juros mais competitivos para empresas menores, sem querer concorrer com o setor financeiro privado.
"Não queremos padrão de subsídios como no passado, mas uma taxa de juros mais competitiva para micro, pequenas e médias empresas", disse.
Segundo Mercadante, é preciso uma revisão da Taxa de Longo Prazo do BNDES, a TLP, "em parceria com o Congresso Nacional". Na avaliação dele, a TLP "apresenta enorme volatilidade e representa um custo financeiro acima do custo da dívida pública federal, o que penaliza de forma desnecessária as micro, pequenas e médias empresas".
O atual nível da taxa básica de juros do Banco Central voltou a ser duramente criticado por Lula em sua fala.
Mercadante também afirmou que sua equipe está desenvolvendo projeto para a constituição de um "Eximbank no BNDES" para apoiar operações de pré-embarque e o pós-embarque de exportações brasileiras.
No final de seu discurso, Lula disse que os ataques de bolsonaristas radicais nas sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro foram uma revolta de "muita gente rica que não queria perder as eleições" e disse que um dia poderão ser os pobres a se revoltarem.
"Nós não podemos brincar, porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e pode resolver fazer as coisas mudarem neste país", disse.