O assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, afirmou nesta 4ª feira (7.ago.2024) não confiar nas atas divulgadas pela oposição ao presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda). Em entrevista à Globonews, disse preferir aguardar a divulgação do resultado oficial antes de se pronunciar.
“Lamentável que as atas não tenham aparecido, eu disse isso para o presidente Maduro no dia seguinte à eleição”, disse. Em outro momento, declarou: “Eu também não tenho confiança nas atas da oposição”.
Amorim viajou à Venezuela em 26 de julho para acompanhar as eleições, que aconteceram no domingo (28.jul). Ele ficou no país até a terça-feira (30.jul) e se encontrou com Maduro e o seu principal adversário, o diplomata aposentado Edmundo Gonzalez Urrutia (Plataforma Democrática Unitária, centro-esquerda).
Junto à Colômbia e ao México, o Brasil pediu a divulgação das atas de votação, que foram submetidas à Justiça da Venezuela. Desde então, segundo ele, os 3 países não conseguiram contato com Maduro. “Nós não temos ainda um diálogo direto com ele. eu sei que é urgente, mas acho que as coisas evoluem rapidamente”, disse.
No entanto, afirmou que “não se pode dar um ultimato”. “Às vezes a evolução é lenta, mas está ocorrendo. Se a gente notar que não tem nenhuma solução, não sei, tem que pensar”.
Amorim pontuou como “principal meta” o diálogo com Maduro; relembrando que, mesmo que não tenha sido reeleito, o presidente ainda tem 6 meses do atual mandato pela frente. “Temos que voltar ao diálogo, é a nossa principal meta. Não adianta dizer que Edmundo venceu. O outro está lá, vai continuar lá 6 meses.”
NOTA DO PT
O assessor especial disse pensar diferente da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, que divulgou uma nota em 29 de julho reconhecendo a vitória de Maduro. A publicação divergiu da posição de cautela adotada até agora pelo presidente Lula e pelo Itamaraty.
Ao ser questionado se a nota criou desgaste entre Lula e o partido, Amorim negou e defendeu a pluralidade de posicionamentos. “Não vivemos um partido único, felizmente vivemos em um regime plural. Eu acho que não [teve desgaste]. É normal saber que pessoas pensam assim, é uma corrente política importante no Brasil. Eu não penso daquela maneira”, disse.
LAMENTA VIOLÊNCIA
Diversos protestos acontecem pelo país desde que o conselho eleitoral da Venezuela afirmou em 2 de agosto que Maduro foi reeleito com 51,95% dos votos. Segundo a ONG Provea, já são 24 mortes e mais de mil prisões arbitrárias –que foram condenadas pelo representante do Planalto.
“Eu temo muito que possa haver um conflito grave. Não quero usar a expressão ‘guerra civil’, mas eu temo, então acho que a gente tem que trabalhar para que aconteça um entendimento. Isso exige conciliação, e conciliação exige flexibilidade de ambos os lados”, afirmou.