O New York Times disse na 2ª feira (23.out.2023) ter cometido erros na cobertura sobre a explosão do hospital de Al-Ahli, na Faixa de Gaza.
Em editorial, os editores do jornal norte-americano afirmaram que, embora os relatos iniciais do veículo, que responsabilizaram Israel pela explosão, fossem atribuídos às autoridades palestinas, as informações publicadas se baseavam “demais” em alegações do Hamas e “não deixavam claro” que as declarações do grupo extremista “não podiam ser imediatamente verificadas”.
O Hamas disse que Israel era responsável pela explosão do hospital Al-Ahli em 17 de outubro. Já o governo israelense afirmou que estava investigando o caso. As declarações dos envolvidos no conflito resultou em uma guerra de versões sobre a explosão (leia mais abaixo).
“Dada a natureza sensível das notícias durante um conflito crescente e a promoção proeminente que elas receberam, os editores do ‘Times’ deveriam ter tomado mais cuidado com a apresentação inicial [dos fatos] e sido mais explícitos sobre quais informações poderiam ser verificadas”, disse o texto do New York Times.
Leia a tradução do editorial publicado pelo jornal norte-americano:
“Em 17 de outubro, o ‘New York Times’ publicou a notícia de uma explosão em um hospital na cidade de Gaza, guiando sua cobertura por meio de alegações de funcionários do governo do Hamas de que um ataque aéreo israelense foi a causa e que centenas de pessoas foram mortas ou feridas. A cobertura incluiu uma grande manchete no topo do site do ‘Times’.
“Em seguida, Israel negou ser o culpado e responsabilizou um lançamento falho de foguete [realizado] pelo grupo extremista palestino Jihad Islâmico, que, por sua vez, negou a responsabilidade. As autoridades norte-americanas e outras autoridades internacionais disseram que suas evidências indicam que o foguete veio de posições de combatentes palestinos.
“Os relatos iniciais do ‘Times’ atribuíram a alegação de responsabilidade israelense a autoridades palestinas e observaram que os militares israelenses disseram estar investigando a explosão. No entanto, as primeiras versões da cobertura —e o destaque que recebeu nas manchetes, nos alertas de notícias e nas redes sociais— baseavam-se demais nas alegações do Hamas e não deixavam claro que essas alegações não podiam ser imediatamente verificadas. A reportagem deixou os leitores com uma impressão incorreta sobre o que era conhecido e quão credível era o relato.
“O ‘Times’ continuou a atualizar a sua cobertura à medida que mais informações se tornavam disponíveis, relatando as reivindicações contestáveis de responsabilidade e notando que o número de mortos poderia ser inferior ao inicialmente relatado. Em duas horas, a manchete e outros textos no topo do site relatavam a extensão da explosão e a disputa sobre a responsabilidade [da explosão].
“Dada a natureza sensível das notícias durante um conflito crescente e a promoção proeminente que [elas] receberam, os editores do ‘Times’ deveriam ter tomado mais cuidado com a apresentação inicial e sido mais explícitos sobre quais informações poderiam ser verificadas. Os líderes das Redações continuam a examinar os procedimentos em torno dos maiores eventos de notícias de última hora –inclusive para o uso das grandes manchetes no relato on-line– para determinar quais proteções adicionais podem ser garantidas”.
GUERRA DE VERSÕES
Os envolvidos na guerra apresentaram narrativas diferentes sobre o bombardeio do hospital de Al-Ahli, realizado na 3ª feira (17.out). Depois da explosão, o Hamas acusou Israel e declarou, em nota, que a explosão era um crime de “genocídio” e revelava “o lado feio do inimigo e seu governo fascista e terrorista”.
Em 18 de outubro, a agência de notícias estatal da Palestina, Wafa, disse que “depois de bombardear um hospital […] Israel cometeu outro massacre horrível ao bombardear uma mesquita em Nuseirat”.
Já Israel afirmou, com fotos, vídeos e áudio, que a explosão que atingiu o hospital foi causada por um foguete do grupo Jihad Islâmica. Disse que, no início da noite de 17 de outubro, cerca de 10 foguetes haviam sido disparados por essa organização de um cemitério próximo ao hospital.
Os Estados Unidos também se manifestaram sobre o caso. O presidente do país, Joe Biden, disse que o bombardeio não foi promovido por Israel. “Com base no que vi, parece que foi feito pela outra equipe, não por vocês”, disse o norte-americano ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em 18 de outubro.
Além do que foi dito por Biden, um relatório preliminar do Conselho de Segurança Nacional norte-americano indica que Tel Aviv não é responsável pela explosão. A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que deve fazer uma investigação própria sobre o caso.