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Pedetista radicalizou discurso na 4ª eleição e acabou isolado na disputa

Publicado 02.10.2022, 05:30
Atualizado 02.10.2022, 08:41
© Reuters.  Pedetista radicalizou discurso na 4ª eleição e acabou isolado na disputa

Depois de terminar o primeiro turno da disputa presidencial de 2018 em terceiro lugar, com 12,4% dos votos válidos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) começou a construir a sua candidatura. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preso e a direita reunida em torno de Jair Bolsonaro (PL), o pedetista acreditava que teria dali a quatro anos, na sua quarta tentativa, a melhor chance de chegar ao Palácio do Planalto.Quando decidiu embarcar para Paris em plena campanha do segundo turno, Ciro se ressentia do fato de o PT ter escolhido Fernando Haddad (PT) como o "substituto" de Lula em vez de apoiá-lo. O PT, em sua análise, não queria de fato vencer em 2018, mas marcar posição.Quatro anos depois, Ciro, de 64 anos, chega ao fim da campanha isolado politicamente, com seu partido dividido, sem a retaguarda de apoiadores históricos e rompido até com a família no Ceará. A entrada do ex-presidente Lula na disputa estruturou uma polarização consistente e implodiu as pontes que o candidato e seu marqueteiro João Santana esperavam criar com o eleitorado antibolsonarista.Emparedado entre o atual e o ex-presidente, Ciro foi subindo gradativamente o tom dos ataques ao PT e a Lula e tentou ainda seduzir seguidores de Bolsonaro. Em entrevista ao podcast Monark Talks, o candidato do PDT disse que sua participação nas eleições enfrenta os interesses de um "deep state" ("Estado profundo"). Essa expressão foi uma das marcas dos discursos de campanha do ex-presidente republicano dos Estados Unidos Donald Trump.Para os adeptos da tese, o "Estado profundo" seria composto pela elite política, econômica e financeira que se une para derrotar qualquer um que tente mudar o sistema vigente. "Com o campo da esquerda tomado, Ciro foi buscar o espólio bolsonarista, mas não foi bem-sucedido. Ele deu um cavalo de pau e passou a defender um nacionalismo que nada tem a ver com o novo desenvolvimentismo. Ciro buscou uma agenda de direita como nicho de sobrevivência", disse o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).Candidato ao Senado em São Paulo pelo PDT, o ex-ministro Aldo Rebelo lembrou que em 2018 a polarização entre Haddad e Bolsonaro se deu apenas na reta final. "Desta vez, a eleição já nasceu polarizada e sobrou um espaço contido para a terceira via. Nem o (João) Doria, que era governador de São Paulo, sobreviveu", afirmou.DISPUTASEx-prefeito de Fortaleza e ex-governador do Ceará, Ciro disputou sua primeira eleição presidencial em 1998, quando recebeu 11% dos votos válidos. Em 2002, chegou aos 12% e apoiou Lula no segundo turno contra o ex-ministro tucano José Serra. Após ser ministro de Lula, rompeu com o PT em busca de uma raia própria na política. Ficou em terceiro lugar em 2018, novamente com 12% dos votos válidos e, agora, os institutos de pesquisas apontam que ele pode receber metade dos votos que teve quatro anos atrás - Ciro já avisou que, se perder mais uma vez, esta será a sua última campanha para presidente.O sinal mais evidente do isolamento de Ciro foi o quadro político no Ceará, seu reduto eleitoral. Após brigar com sua família, o seu candidato local, Roberto Cláudio, do PDT, corre o risco de ficar fora do segundo turno, que deve ser disputado entre Elmano de Freitas (PT), candidato de Lula, e Capitão Wagner (União Brasil), nome avalizado por Bolsonaro.Há, entre pedetistas de diversos Estados, um clima de desânimo e preocupação com o futuro do partido. Os relatos são de que, na prática, a sigla não está engajada na campanha presidencial do ex-ministro. Ao longo da campanha, inclusive, Ciro perdeu para Lula o apoio de quadros históricos do trabalhismo e de artistas.O cantor Caetano Veloso foi um deles. Na sabatina Estadão/FAAP, Ciro não poupou palavras para criticar a mudança de lado - e posição - de Caetano que, segundo ele, está com "a vida ganha". "Quem está preocupado com o dia seguinte é quem não tem plano de saúde, é quem não tem como pagar mensalidade escolar, é quem está submetido ao terrorismo das facções criminosas nas periferias", afirmou Ciro.BRIZOLISMOO movimento que mais abalou os pedetistas ligados à campanha presidencial, no entanto, foi a declaração do deputado federal Leonel Brizola Neto. "Em momentos cruciais da história, Brizola sabia que precisava apoiar quem tinha compromisso com o povo e mais chance de vencer. Foi assim em 1989, em 1994, em 2002. Vamos eleger Lula no primeiro turno", conclamou o parlamentar em um ato no Rio."A base do PDT está dividida e isso afeta as campanhas proporcionais", disse ao Estadão o ex-ministro e candidato a deputado federal Miro Teixeira (RJ). Sobre os ataques de Ciro ao PT, o parlamentar é contido. "Ele usa as palavras que quiser. Eu não usaria essa linguagem", afirmou.Fiel escudeiro de Ciro na campanha em São Paulo, o sindicalista e membro da direção do PDT Antonio Neto, que também é candidato a deputado federal, rechaça que Ciro tenha feito gestos ao bolsonarismo ao longo da campanha. "Essa é uma mentira muito grande. Nós vamos em qualquer podcast. Não temos tempo de TV", disse.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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