Pequenos negócios têm oportunidade de ganhar dinheiro ao prestar serviços para grandes empresas de óleo e gás, como a Petrobras (BVMF:PETR4). Só na estatal, há mais de 105 mil empresas contratadas para realizar as atividades, segundo o relatório de sustentabilidade da corporação (íntegra – 16 MB). Ocorre que companhias do nicho são repletas de demandas que muitas vezes não podem ser realizadas de forma autônoma, exigindo a contratação de terceiros.
Segundo especialistas ouvidos pelo Poder Empreendedor, o movimento de contratação trazido por grandes petroleiras é bem democrático, pois consegue abarcar corporações dos mais diversos portes.
“Você encontra MEI [Microempreendedor Individual] fornecendo para a indústria de óleo e gás. Tem as micro e as grandes também”, disse Antonio Batista, engenheiro industrial e diretor da Vita Digital Soluções.
Para o entrevistado, a parte mais importante ao querer investir na prestação de serviços para as gigantes do óleo e gás é a especialização e capacitação. É preciso entender onde a empresa quer se localizar e todas as oportunidades trazidas pelas regionalidades onde se insere.
Antonio avalia haver 4 pontos centrais para se preocupar quando o objetivo é se inserir nas atividades:
- financeiro – geralmente as petrolíferas buscam empresas com a saúde financeira estável, pois não querem lidar com possibilidade de inadimplência;
- ordem técnica – precisa apresentar conhecimentos técnicos para atuação. A sugestão de Batista é buscar sempre aval e certificados de recomendações dos clientes para quem já prestou serviços. “Tem uma série de regulamentação e determinado profissional só pode atuar na atividade se ele estiver habilitado e certificado para isso”, comentou;
- saúde, meio ambiente e segurança – a prestadora deve ficar atenta às causas ambientais e segurança dos funcionários;
- compliance – o pequeno negócio deve abraçar as características e ordens do contratante de modo seguir à risca as questões técnicas e éticas da empresa.
Empreendedores interessados em ingressar no ramo podem entrar em contato com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e à Pequena Empresa) e fazer avaliações para ver o quão viável é o projeto, conta Robson Matos, analista da entidade no Rio Grande do Norte.
“A gente prepara esse empresário para os produtores de petróleo”, disse. Segundo ele, o contato pode ser feito pelos mais diversos canais do Sebrae, desde telefone até encontros presenciais. A partir daí, o time de energia vai direcionar o cidadão da melhor forma possível.
Robson disse também que o mercado desse setor é competitivo do mercado. Por isso, requer cautela ao entrar nele. “É muito competitivo. Prima muito pela competitividade dos investidores”, contou.
Os serviços vão desde consultorias e dados estatísticos até serviços mais mecânicos e braçais. São comuns práticas relacionadas à saúde e também à proteção individual. Vai depender das necessidades locais de cada petrolífera.
Leia a lista completa dos serviços demandados pelas petrolíferas, segundo o Sebrae. As atividades são divididas pelo Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas). Na tabela abaixo, clique em “anterior” ou “próximo” para ter acesso a todas as atividades. Também é possível pesquisar por alguma específica no campo “busca”.
PERFIL
A Petrobras conta com 105,4 mil prestadoras de serviços contratadas. A maioria delas (72.730) se concentra no Sudeste, onde estão concentradas as unidades de refino e extração de petróleo. O Nordeste está em 2º lugar, com 17.729 companhias. O Norte é a região com menor número de prestadoras: 2.898.
A maioria das prestadoras (58.368) de serviços atuam no setor de apoio à operação. Outras 31.043 trabalham com obras. Uma parte menor (5.391) fica no setor de paradas de manutenção.
A cadeia de prestadores de serviços também engloba os fornecedores da Petrobras. A maior parte (65%) deles têm contratos firmados de até R$ 100 mil, valor relativamente baixo para operações de uma gigante como a estatal. Leia o perfil dos contratos:
- acordos de R$ 100 mil a R$ 1 milhão representam 17%;
- a mesma proporção vale para quem fatura de R$ 1 milhão a R$ 100 milhões;
- somente 2% têm contratos maiores que esse valor.
NA PRÁTICA
Uma das prestadoras de serviço para petrolíferas é a Projetos Geológicos. Localizada na cidade interiorana de Mossoró (RN), é responsável por fazer consultoria ambiental a quem atua no setor.
A empresa foi fundada em 2002 com objetivo de estudar a geologia e mineração, contou o fundador da marca Gutemberg Opa. Com o tempo, como o investimento no local em petróleo era grande, eles naturalmente se inseriram no mercado de prestação de serviço para o setor, agora com consultoria ambiental.
O cliente central era a Petrobras. Segundo o empresário, a estatal concentrava 70% das atividades da companhia dele.
Gutemberg diz que entrar no ramo do petróleo mudou os rumos da Projetos Geológicos. A empresa cresceu em faturamento e em operações para conseguir se consolidar no mercado, afirmou o fundador.
A partir de 2015, quando a Petrobras começou um programa de desinvestimento em poços em terra firme, a companhia teve que migrar de clientes. Petrolíferas de menor porte começaram a tomar o espaço deixado.
“Nós tivemos que criar outros mecanismos para suprir a necessidade de manter a equipe, mas nunca deixamos o petróleo e gás.”
O desinvestimento da Petrobras se deu para se concentrar na exploração de petróleo em alto mar. Com isso, vendeu as refinarias e os poços de produção no interior do país.
Atualmente, a Projetos Geológicos tem 45 funcionários e atua no regime tributário Lucro Presumido. “Hoje o segmento de óleo e gás é quem garante a sobrevivência da empresa”, disse Gutemberg.
OPORTUNIDADES
Para todos os entrevistados pela reportagem, o mercado de prestação de serviços para extração de petróleo está aquecido e diversificado. O efeito se daria, inclusive, longe das praias e nos interiores do país.
“Hoje não é apenas Petrobras. O mercado de petróleo e gás está bem plural a partir de uma série de melhorias”, disse.
Além disso, as consequências vão além das estatísticas corporativas. A presença de uma indústria de óleo e gás em determinada localidade fomenta a economia local por causa da criação de empregos, não só pelas empresas, mas também por toda a infraestrutura construída ao redor do polo.
Os especialistas falaram em redes de hotéis, restaurantes e até mesmo turismo para atender as necessidades regionais das cidades.
“Toda a rede de uma cidade se beneficia com a indústria de óleo e gás. A escola, os hospitais, a hotelaria”, disse Robson, analista do Sebrae.
Um dos polos para empresas do setor é Macaé (RJ), conhecida como capital nacional do petróleo. Segundo a prefeitura, há 3.099 prestadores de serviços no município. Nos últimos 10 anos, quando a indústria de óleo e gás chegou lá, Macaé cresceu economicamente 600%.