Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal descobriu uma nova joia durante diligências nos Estados Unidos na investigação que apura suposta tentativa de apropriação indevida de joias presenteadas envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e deve concluir até o mês que vem este inquérito e outros dois que implicam o ex-presidente: sobre fraude no cartão de vacinação e tentativa de golpe de Estado, disse o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
Em café da manhã com jornalistas nesta terça-feira, Rodrigues confirmou que, com o apoio do FBI, agentes da PF descobriram que, além do conjunto de joias de que já tinha conhecimento, houve a negociação de outra joia que não estava inicialmente no foco da investigação.
O diretor-geral, contudo, não deu detalhes dessa nova joia, mas avaliou que isso fortalece a linha de apuração da PF no caso.
"Isso só robustece a investigação que se tem feito, demonstrando todas as circunstâncias e tudo houve nesse contexto, desde a apreensão do aeroporto até o dia de hoje", disse.
Questionado sobre um possível cometimento do ex-presidente de crime de peculato -- desvio de um bem público --, o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF, Ricardo Saadi, afirmou que a descoberta da nova joia poderá "eventualmente" caracterizar um crime continuado.
"Na hora da definição isso poderia ser considerado um agravante", ressaltou ele, também presente ao encontro.
Bolsonaro é investigado por suposto uso da estrutura do Estado para o desvio de joias ofertadas como presentes oficiais pelo governo saudita e posterior venda e ocultação de valores com o objetivo de enriquecimento ilícito do ex-mandatário.
Andrei Rodrigues reforçou que até o próximo mês três investigações que envolvem Bolsonaro devem ser concluídas pela PF, em linha com o que Reuters e outros veículos já haviam noticiado.
"Eu estimo, a nossa expectativa é que no mês de junho a gente finalize as duas investigações, sobre joias e vacinas, e no mês de julho a gente finalize a investigação sobre o golpe", afirmou.
Rodrigues ressalvou que, apesar da finalização dessas investigações, elas podem gerar desdobramentos.
"Há essa finalização, sem prejuízo que o fruto desse trabalho todo haja desdobramentos, cause outras investigações, segue o jogo", ressaltou.
Bolsonaro, que sempre negou envolvimento nos crimes, está inelegível até 2030 após ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na campanha presidencial de 2022.
DELAÇÕES
O diretor-geral afirmou ainda que a PF avalia firmar acordos de delação premiada na investigação feita sobre a existência de uma estrutura paralela na Agência Nacional de Inteligência (Abin) para monitorar e espionar pessoas contrárias ao governo Bolsonaro.
"Estamos (no momento das) diligências finais, tem a possibilidade de colaboração de investigados", afirmou.
Questionado sobre a discussão no Congresso para acabar com a delação premiada de réus presos, Rodrigues não quis opinar por considerar que o assunto está na alçada do Legislativo. Ainda assim, disse apoiar o uso do instrumento como técnica de investigação.
"A delação é importantíssima, é uma ferramenta e estamos usando esse instrumento como sempre deveria ser usado, como meio de obtenção de prova", disse.
"Respeitamos o processo legislativo, o Parlamento é o foro adequado para esse tipo de discussão, que deve ouvir todas as partes envolvidas", acrescentou ele, ao dizer que a PF vai fazer uma manifestação técnica para subsdiar o debate.