O ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse na 2ª feira (23.out.2023) que cabe ao povo palestino a “discussão e definição do papel” que o grupo extremista Hamas deve ter na região após a guerra com Israel. Falou em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.
Pimenta respondia a uma pergunta sobre qual seria avaliação do governo Lula a respeito do papel do Hamas depois do conflito armado. Em prefácio de um livro publicado em março de 2023 no Brasil, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, afirmou que o grupo ter um “papel central” na “restauração dos direitos palestinos” era “encorajador”.
Ele defendeu que o Hamas seja “responsabilizado”, mas fez uma ressalva ao citar o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela (1918-2013) em sua resposta. Afirmou que Mandela “ficou 27 anos na cadeia acusado de terrorismo e se tornou uma das maiores lideranças” do século 20. Pimenta citou também o IRA (Irish Republican Army –nome da organização paramilitar que defendia a independência da Irlanda em relação ao Reino Unido).
Eis o que foi perguntado:
- “O Celso Amorim, assessor especial da Presidência, disse no prefácio de um livro lançado em março deste ano que era ‘encorajador’ o papel que ele avaliava que o Hamas tinha que ter na reconstrução do que ele chamou de direitos palestinos. O governo acha que o Hamas tem que ter qualquer papel depois da guerra?”
Eis o que o ministro respondeu:
- “Há um contexto desse prefácio que foi escrito, eu não conheço esse prefácio. Acho que cabe ao povo palestino a discussão e a definição do papel dos seus atores, dos seus sujeitos. O Hamas tem que ser responsabilizado pelo que fez, mas nós já vivemos situações no mundo em que o IRA era considerado terrorista e hoje faz parte do governo do Reino Unido. Já vivemos situações em que o Nelson Mandela ficou 27 anos na cadeia acusado de terrorismo e se tornou uma das maiores lideranças, um dos maiores estadistas do seculo 20. Como que vai ser o futuro, o papel do Hamas, se vai mudar, o povo palestino tem que fazer essa discussão, o povo palestino deve ter autonomia para discutir seu futuro, a sua forma de organização. Agora, crime, terrorismo, isso não pode ser tolerado por ninguém. Como vão construir seu futuro, espero que seja da melhor maneira possível, dentro dos valores humanistas, do direito internacional, espero que a gente possa construir uma solução de 2 Estados, que possa existir um ambiente de paz, torço para isso e torço que o Brasil possa ter um papel decisivo para que isso efetivamente possa acontecer”.