A procuradora da República Gabriela Saraiva (BVMF:SLED4) de Azevedo Hossri foi designada para cuidar do caso das joias de R$ 16,5 milhões apreendidas com uma comitiva do governo Bolsonaro.
Gabriela é casada com o vereador de Campinas Nelson Hossri (PSD), que é bolsonarista. Ele tem fotos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho dele, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nas redes sociais.
A procuradora é tida como 'rígida' pelos colegas. Ela trabalha desde outubro de 2020 no 5º Ofício da Procuradoria da República no Município de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Partidária da prisão em segunda instância, a procuradora subscreveu, em 2019, uma carta de apoio à então coordenadora da Procuradoria Federal de Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, que foi alvo de representações movidas pelo PSL, antigo partido de Bolsonaro, por sua atuação institucional em defesa dos direitos humanos.
Gabriela está de férias e retorna ao trabalho no final da próxima semana. Além dela, uma equipe auxiliar vai ficar destacada para trabalhar no caso.
A distribuição ao gabinete da procuradora foi feita automaticamente pelo sistema. Enquanto ela não retorna, o caso está provisoriamente com outro procurador.
Ainda não há um inquérito formal instaurado no Ministério Público Federal (MPF). Os investigadores vão analisar a denúncia e o material enviados pela Receita Federal. Foram compartilhados documentos, vídeos, fotos e gravações de áudio. Só quando a análise preliminar for concluída, a procuradora vai decidir se abre ou não uma investigação. Não há prazo para essa decisão.
Se um inquérito for aberto, ele deve tramitar em conjunto com a investigação sigilosa que já está em curso na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da superintendência da Polícia Federal (PF) em São Paulo.
O inquérito da PF está andando em ritmo acelerado. O prazo para conclusão é de 30 dias, mas pode ser prorrogado. Testemunhas já começaram a ser chamadas para depor. O ex-ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, será ouvido na próxima terça.
Entenda o caso
As joias foram apreendidas pela Receita Federal em outubro de 2021, quando o então assessor do Ministério das Minas e Energia, Marcos Soeiro, tentou passar pela alfândega do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sem declarar as peças.
O ex-ministro admitiu que sua comitiva trouxe o que seria um 'presente' do regime da Arábia Saudita para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas alegou que ninguém sabia o que tinha dentro dos pacotes, porque eles estavam fechados.
O governo Bolsonaro escalou três ministérios (Relações Exteriores, Minas e Energia e Economia) para tentar recuperar as joias, que seguem retidas pela Receita Federal. Uma tentativa derradeira de retirar as peças foi feita a dois dias do final do mandato.
O ex-presidente também admitiu ter ficado com segundo estojo, composto por caneta, anel, relógio, um par de abotoaduras e uma espécie de rosário, que passou pela alfândega. O Ministério Público junto a Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que Bolsonaro seja obrigado a devolver as peças.