Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em primeiro lugar com folga nas pesquisas eleitorais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não pode ser cobrado por promessas para manter a responsabilidade fiscal porque durante seus dois mandatos manteve e melhorou os indicadores fiscais do país.
"Nós, no nosso primeiro mandato, reduzimos uma dívida pública de 60% para 35%, depois no segundo mandato ela foi para 32%. Nós pagamos os 30 bilhões que devíamos ao FMI e ainda fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares. Nós fomos o único país do G20 que cumprimos todos os anos do governo a meta de superávit primário", afirmou em entrevista à rádio Brasil de Campinas (SP).
"Então ninguém venha falar para mim de responsabilidade fiscal. Porque nós tivemos muita responsabilidade fiscal e fizemos aquilo que deveríamos fazer. E fizemos a maior política de inclusão social em 500 anos de história", concluiu.
Apesar de movimentos feitos pelo petistas de aproximação do centro, como o convite para que Geraldo Alckmin (sem partido) seja seu companheiro de chapa, o mercado financeiro ainda cobra de Lula posições que são consideradas nebulosas e um suposto compromisso com a responsabilidade fiscal.
O ex-presidente, no entanto, tem se recusado a fazer movimentos exigidos pelo mercado, como uma nova carta ao povo brasileiro, apresentada na campanha de 2002. A interlocutores, Lula diz que os seus compromissos com a estabilidade fiscal estão claros nos seus dois mandatos.
Recentemente, Lula recusou um convite do banco BTG Pactual (SA:BPAC11) para falar ao mercado financeiro no CEO Conference Brasil 2022, um evento anual organizado pelo banco onde já confirmaram presença o presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), além de Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos).
De acordo com uma fonte, Lula não vê necessidade de falar ao mercado nesse momento justamente porque considera que suas políticas fiscais estão claras.
"POVO NÃO É PALHAÇO"
Posições do petista, entretanto, incomodam os analistas financeiros. Na entrevista desta quarta-feira Lula voltou a dizer que tem a intenção de mudar a política de preços da Petrobras (SA:PETR4), uma proposta que causa arrepios no mercado.
"Nós vamos cuidar do preço da gasolina, do óleo diesel. O Brasil é autossuficiente, pode produzir a preço de reais. Tem gente que não gosta que eu falo isso. Ótimo, mas pode ficar certo que nós vamos mexer no preço do combustível porque o povo brasileiro não é palhaço para pagar preço de combustível em dólar quando ele não ganha em dólar", afirmou.
Lula colocou ainda como sua prioridade, se for eleito, a atualização da tabela do Imposto de Renda e o taxação de lucros e dividendos, propostas que também incomodam o mercado financeiro. Segundo o ex-presidente, sua intenção é propor que pessoas que ganhem até cinco salários mínimos sejam isentas.
Sobre o imposto sobre lucros e dividendos, reconheceu que há muitas divergências entre economistas, mas defende que é uma medida necessária.
"É uma discussão que precisamos fazer, porque no imposto proporcional o rico paga menos", disse.
A tributação sobre dividendos foi aprovada pela Câmara dos Deputados no ano passado, mas não avançou até agora no Senado.