O secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Elias Vaz, assumiu a responsabilidade pelas vezes em que Luciane Barbosa Farias, a “dama do tráfico amazonense”, foi recebida no órgão. Ela é casada com Clemilson dos Santos, apelidado de “Tio Patinhas”, que era o procurado “número 1” da polícia do Amazonas até ser preso em dezembro de 2022.
“Reconheço que temos autonomia para fazer nossas agendas. Se teve erro, foi meu. Devia ter verificado [quem eram as pessoas recebidas]. Não foi culpa de ninguém do ministério. Confesso que não faço isso em nenhuma reunião. Não faço verificação. Vou passar a fazer”, disse Vaz em entrevista ao jornal Correio Braziliense publicada nesta 3ª feira (14.nov.2023).
Vaz disse que o ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) está “muito contrariado” com a situação. “Me chamou a atenção para que verifique melhor quem recebo. Relatei o que ocorreu e acredito que compreendeu. Óbvio que me chamou a atenção”, afirmou.
Conforme o secretário, o ministério passará a fazer “uma verificação prévia” de quem vai ao órgão. “Não vou passar por isso de novo. E vou manter o mesmo ritmo. Enquanto estiver aqui, vou manter meu trabalho e tomar mais cuidado. Vou continuar atendendo, só que, agora, com filtro”, declarou.
Ele afirmou que a reunião foi pedida, em 14 de março, por Janira Rocha, advogada que ele conhece há 20 anos. “Ela me pediu para receber esse pessoal, não especificou quem era”, disse, acrescentando ter marcado a conversa para 16 de março e que mais 5 pessoas apareceram no compromisso.
Segundo o secretário, Luciane conversou sobre o sistema penitenciário. “Falei que não era assunto para a nossa secretaria e pedi para o secretário de Políticas Penais [Rafael Brandani] recebê-la, em outro prédio. Eram reclamações sobre comida, violações e visitas”, declarou.
“Não sabia dessa relação [com “Tio Patinhas”]. Só fiquei sabendo agora. Não tinha conhecimento de ‘Tio Patinhas’ nenhum. Só conheço o da história em quadrinhos. Foi isso o que aconteceu”, afirmou Vaz.
Luciane é presidente da ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), que diz prestar assistência social e jurídica para presos e seus familiares. Segundo a polícia do Amazonas, a ONG atua em prol de presos do Comando Vermelho e é financiada com dinheiro do tráfico.
Em nota, o Ministério da Justiça afirma que era “impossível” que o setor de inteligência do ministério a identificasse por ela ter participado dos encontros junto a uma comitiva. A presença não foi registrada nas agendas oficiais.
Luciane também se encontrou com congressistas ao longo do ano. Imagens na rede social Instagram mostram Luciane com os deputados federais André Janones (Avante-MG), Guilherme Boulos (Psol-SP) e Daiana Santos (PCdoB-RS) nos meses de março e maio.
Vaz afirmou que “a oposição está se apropriando dessa história para cometer leviandades contra uma pessoa que recebeu, sem saber, gente que tinha relação de parentesco com alguém de facção criminosa”.