Por Eduardo Simões
(Reuters) - As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o início desta semana já mataram pelo menos 55 pessoas, disse a Defesa Civil estadual, e o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que será necessário uma espécie de "Plano Marshall" para reconstruir o Estado.
De acordo com a Defesa Civil gaúcha, além das mortes confirmadas há 74 pessoas desaparecidas e sete mortes ainda em investigação, o que deve elevar ainda mais o número de vítimas fatais do que as autoridades estão chamando de pior desastre climático da história do Estado.
Em boletim divulgado mais cedo, a Defesa Civil gaúcha havia informado 57 mortes em decorrência das chuvas, apontando que deste total 10 estavam "em investigação", ou seja, as autoridades apuravam as circunstâncias da morte para determinar se elas estavam relacionadas às enchentes
Ao todo, 317 municípios foram afetados pela tragédia -- quase dois terços das 497 cidades do Estado. A tragédia atingiu mais de 510 mil pessoas, feriu outras 107 e deixou quase 70 mil desalojadas.
Uma comitiva de ministros foi ao Rio Grande do Sul na manhã deste sábado para implementar um escritório de coordenação do apoio federal ao Estado e para se reunir com o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB).
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, que é gaúcho e fez parte desta comitiva, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornará ao Rio Grande do Sul na manhã de domingo acompanhado de mais nove ministros. Lula visitou o Estado na última quinta-feira e, na ocasião, afirmou que não faltariam recursos federais ao Rio Grande do Sul.
"A vinda do presidente da República amanhã vai ser muito bem-vinda para que, mais uma vez, ele, o presidente da Câmara (dos Deputados), o presidente do Senado, que já manifestaram estarem junto conosco, possam ver in loco o que está acontecendo e entender que a gente vai precisar de medidas absolutamente excepcionais", disse Leite em entrevista coletiva ao lado de Pimenta.
"A gente vai precisar de um Plano Marshall para o Rio Grande do Sul. Vamos precisar de um plano de excepcionalidade em processos, em recursos, em medidas absolutamente extraordinárias porque quem já foi vítima da tragédia não pode também ser vítima da desassistência", acrescentou em referência ao plano patrocinado pelos Estados para a reconstrução da Europa após a devastação causada no continente durante a Segunda Guerra Mundial.
O desastre provocou cheias em rios, cortou o fornecimento de energia elétrica e os serviços de telefonia em vários pontos.
Algumas cidades estão completamente debaixo d'água e transformaram-se em verdadeiros rios, com diversas estradas e pontes destruídas.
O temporal também provocou deslizamentos de terra e o rompimento de parte da estrutura da barragem da usina de geração de energia 14 de Julho, na bacia do Rio Taquari-Antas, em Cotiporã, na Serra Gaúcha.
As autoridades também alertaram para o risco de rompimento de uma barragem da Represa de São Miguel, na cidade de Bento Gonçalves, e determinaram as saídas de pessoas que moram em áreas que podem ser afetadas.
Na capital Porto Alegre, a Defesa Civil alertou a população para a condição do Rio Guaíba, que recebeu expressivos volumes em razão das fortes chuvas e ultrapassou sua cota de inundação. Todos os acessos ao centro histórico da cidade foram bloqueados devido a alagamentos e há pessoas aguardando resgate em cidades da região metropolitana da capital também atingidas pela cheia do rio, que superou a marca de 5 metros.
O governo gaúcho decretou estado de calamidade pública e a concessionária Fraport, que administra o aeroporto internacional de Porto Alegre, anunciou na noite de sexta a suspensão das operações de pouso e decolagem no local "devido ao elevado volume de chuvas que atingem o Rio Grande do Sul nos últimos dias, e para garantir a segurança de funcionários e passageiros".
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) há previsão de mais chuvas no norte do Estado e as autoridades têm feito apelos para que as pessoas que moram em áreas de risco deixem suas casas e procurem abrigo em locais seguros.
Cientistas disseram à Reuters que o Estado virou o exemplo do que as mudanças climáticas podem fazer com eventos já considerados extremos, mas que vêm atingindo proporções cada vez piores em um mundo que não consegue conter o avanço da temperatura global.
Em setembro do ano passado, o Rio Grande do Sul também ficou debaixo d'água, devido à passagem de um ciclone extratropical, em uma inundação que já era considerada histórica, com mais de 50 mortes registradas.
Diante do isolamento de várias localidades gaúchas, o governo federal decidiu adiar em todo país o Concurso Público Nacional Unificado, que estava marcado para domingo.
Não foi definida ainda uma nova data para a prova, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, disse em sua conta no X que um novo dia para a realização do chamado "Enem dos concursos" será definido após estudos do Ministério da Gestão.