Por Ricardo Brito e Rodrigo Viga Gaier
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Polícia Federal prenda preventivamente dois policiais militares na investigação que apura os assassinatos da ex-vereadora fluminense Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes em 2018, ao mesmo tempo em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia contra eles e também contra os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa, segundo decisão vista pela Reuters e fontes com conhecimento do caso.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenou a detenção dos PMs Ronald Paulo de Alves Pereira, conhecido como Major Ronald, e Robson Calixto da Fonseca, o Peixe.
Segundo o documento, Ronald foi apontado pelo colaborador premiado Ronnie Lessa, apontado como executor do crime, como um dos responsáveis pelos homicídios, por ter se encarregado de obter informações da rotina de Marielle. Segundo uma fonte, ele -- que seria um miliciano com atuação na zona norte do Rio, segundo as investigações -- já está preso em Campo Grande (MS) por outros crimes.
No caso de Peixe, a decisão citou manifestação da PGR de que, embora ele não tenha sido acusado pelos crimes dos homicídios, ele integrava a organização criminosa ao lado dos irmãos Brazão tendo contato com milicianos da região de Rio das Pedras e da gestão dos negócios imobiliários irregulares do grupo.
Peixe, que é um ex-assessor de Domingos Brazão, foi detido pela PF. Ele já tinha sido alvo de uma busca e apreensão, mas, segundo a PGR, permanecia agindo em favor dos irmãos Brazão, conforme o documento.
MANDANTES
Em 24 de março, a PF já havia prendido Chiquinho Brazão, atual deputado federal pelo União Brasil do Rio de Janeiro, seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e Rivaldo Barbosa por envolvimento direto dos homicídios e tentativa de impedir a solução do caso.
A investigação da PF apontou que os dois irmãos ordenaram o ataque em 2018, enquanto Barbosa -- que se tornou chefe da Polícia Civil um dia antes do assassinato -- ajudou no planejamento e depois a sabotar a investigação.
A defesa de Rivaldo Barbosa disse que a denúncia contra seu cliente causa estranheza por não terem informação até o momento da acusação criminal nem que ele tenha sido ouvido antes dessa medida.
Para os advogados Marcelo Ferreira e Felipe Dalleprane, a narrativa de um réu confesso por homicídio, Ronnie Lessa, parece mais importante do que o depoimento de um delegado de polícia com mais de 20 anos de serviços prestados. Em relação ao mérito da denúncia, os advogados só vão se posicionar após terem acesso ao teor da acusação.
A reportagem procura contato com os demais envolvidos.