O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse nesta 6ª feira (3.out.2023) que os brasileiros ainda não receberam autorização para deixar Gaza por serem de um país pobre. “O sangue e a vida daquele 1º mundo vale mais. É uma realidade. O mundo está tendo um desequilíbrio”, declarou em entrevista ao portal UOL.
Brasileiros ainda não estão autorizados a sair da região em conflito. Na 6ª feira, foi a 3ª vez que ficaram de fora da lista de autorização. O país aguarda permissão para retirar um grupo de 34 pessoas (24 brasileiros e 10 palestinos que estão em processo ou darão início à imigração ao país).
Receberam aval para sair 571 pessoas com cidadania de Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Indonésia, Alemanha e México.
Segundo o embaixador, a autorização depende “absolutamente” de Israel. Os cidadãos sairiam por meio da fronteira com Rafah, no Egito.
Ibrahim ainda afirmou que a morte de palestinos no conflito são vistos como um “efeito colateral” da guerra com Israel. “A vida deles não vale tanto quanto a dos outros. Esta é uma realidade que sentimos e o mundo está sentindo”, disse.
Em outubro, o Brasil apresentou um plano no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) para intervenção na guerra, mas os Estados Unidos vetaram a proposta. Para o embaixador, tratou-se de uma tentativa do governo norte-americano de dar uma “carta branca” para a realização dos ataques.
“O conflito poderia ser parado há 7, 10 dias. Os Estados Unidos podem parar a guerra já, deixando passar uma resolução e obrigar Israel a parar com sua chacina. O povo palestino está pagando e os EUA, permitindo isso”, declarou Ibrahim.
Questionado sobre a possível autoria de Israel em um ataque a bombas direcionados a um comboio de ambulâncias na Palestina na 5ª feira (2.nov), o embaixador acusou o país rival de cometer genocídio. “Claro que é Israel que está bombardeando. Fica meio esquisito pensar em outro. De onde vai vir?”, questionou. Israel assumiu o ataque aos veículos.
O QUE É GENOCÍDIO
A palavra “genocídio” frequenta o noticiário político brasileiro em tempos recentes, sobretudo por causa da pandemia da covid-19. Governantes e políticos foram classificados como genocidas por não seguirem o que era o padrão dos procedimentos recomendados para combate ao coronavírus.
Ocorre que ser irresponsável ou tomar decisões contrárias ao senso comum na área de saúde pública ou em locais de conflitos bélicos não configura genocídio, quando se leva em conta o significado real do termo. O Poder360 fez uma reportagem a respeito do que é genocídio: leia aqui.
A palavra genocídio apareceu em 1944, durante a 2ª Guerra Mundial. Foi criada pelo advogado Raphael Lemkin (1900-1959), judeu polonês, para conceituar os abusos sofridos pelas vítimas do governo nazista. Vem da junção de genos, palavra grega que significa “tribo”, com cide, expressão latina para “matar”.
Segundo o professor do Instituto de Direito da PUC-Rio, Michael Freitas Mohallem, “o genocídio é o ato de destruir um grupo, seja étnico ou religioso, mas tem um elemento importante que é a intenção de um agente de erradicar um grupo específico”. Em suma, quem comete genocídio precisa deliberadamente desejar exterminar um grupo populacional.
Em 1948, o genocídio passou a ser definido como crime quando a ONU (Organização das Nações Unidas) realizou um evento para tratar sobre o tema, a “Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio”. No marco do direito internacional, os países-membros da organização se comprometem a fiscalizar e punir possíveis autores.
No caso da guerra entre Hamas e Israel, o conflito começou depois de um ataque por mar, terra e ar do grupo extremista ao território israelense em 7 de outubro de 2023. Nessa investida bélica surpresa, o Hamas matou indistintamente homens, mulheres e crianças, inclusive mais de 200 jovens que participavam de uma rave (festa). O grupo tem um estatuto público no qual inclui como um de seus propósitos a extinção de Israel.